Por Talita R da Silva - Blogueiras Feministas
Muita gente acredita que feminista é aquela mulher que não aceita qualquer gentileza advinda do sexo oposto, por considerá-la uma ofensa à sua condição social, mas que, por sua vez, não perde oportunidades de se vitimizar no momento de exigir leis. Por que exigimos leis, ao invés de nos contentarmos com as supostas gentilezas?
As gentilezas, quando bem empregadas, tornam o convívio mais ameno e, geralmente, atuam como um sinal de que um sujeito está preocupado com o bem-estar de outro(s). Pessoalmente, acredito que tornar-se um ser humano mais gentil é um exercício bastante árduo, que podemos e devemos desenvolver. Demanda atenção às necessidades daqueles que nos cercam e disposição para nos mobilizarmos em prol de um bem-estar que não nos atingirá diretamente. Logo, a gentileza indica um caráter mais altruísta, o que é sempre bem-vindo no mundo.
Na comunicação, uma forma de gentileza seria, por exemplo, não assaltar o turno do interlocutor, ou seja, deixar o outro terminar sua fala para, então, posicionar-se. Isso torna a comunicação menos ruidosa, portanto, mais eficaz. No dia a dia, não precisamos seguir manuais de etiqueta para sabermos que o ideal é jamais tentar furar filas, não empurrar as pessoas para ser o primeiro a entrar no vagão do metrô, dar passagem no trânsito, e assim sucessivamente.
Na minha opinião, praticar a gentileza deveria ser encarado como um exercício de respeito mútuo e percepção social. Seria ótimo se todos nós fôssemos capazes de compreender e colocar em prática algumas gentilezas para com aqueles que nos cercam no cotidiano, sejam essas pessoas homens ou mulheres, idosos ou crianças, deficientes ou não. Porque, na verdade, a gentileza deveria caracterizar quem a exerce e não para quem ela é voltada. No entanto, a realidade é que nem todas as pessoas preocupam-se em ser socialmente conscientes. Nem todos enxergam o valor de se tornar uma pessoa mais gentil e por isso, as leis se mostram fundamentais.
Por que gestantes precisam de assentos reservados em transportes públicos e de filas diferenciadas? Isso se faz necessário porque a resistência física de uma gestante não é similar a de mulheres e homens em condições não-excepcionais. Um “encontrão” para uma gestante pode significar a perda do feto. Marcar esse direito não significa oferecer privilégios, mas assegurar que essa mulher receba aquilo que poderia vir como uma gentileza por parte de pessoas com o mínimo de bom senso. Mas, caso a gentileza não se apresente, que a lei se faça valer. O mesmo poderia ser ponderado com relação às leis que punem violências contra a mulher. O idealíssimo seria que pessoas, homens ou mulheres, evitassem se agredir mutuamente sob qualquer aspecto; o ideal seria que homens percebessem que sua força física costuma ser superior a de mulheres, em condições normais, por isso que eles jamais ousassem cometer a covardia de agredir uma mulher. No entanto, a realidade pode diferir disso. Homens espancam mulheres, diariamente, e vários não encerram as sucessivas agressões até que algum mecanismo penal os faça parar ou a vítima venha a óbito. Dessa forma, exigir que leis capazes de intervir sejam promulgadas é um direito do qual não podemos abrir mão.
Por outro lado, apoiar leis que beneficiem, principalmente, mulheres pode ser encarado como um grande gesto de gentileza, que muitos homens fazem questão de realizar. Tais atitudes são as que nós, feministas, gostaríamos de enxergar para a construção de um mundo mais democrático. De fato, não precisamos de Lords em seus cavalos brancos, mas seria agradável contar com homens mais gentis, caminhando lado a lado, dividindo as contas e, sobretudo, as responsabilidades sociais.
Por fim, proponho que reflitamos quais gentilezas, realmente, constroem uma sociedade mais altruísta e, feito isso, que invistamos maiores esforços em praticá-las!
Receber gentilezas é bom, mas possuir direitos é melhor!Blogueiras Feministas | Blogueiras Feministas
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