sábado, 21 de abril de 2012

Corpo feminino, beleza e diversidade na mídia

Corpo feminino, beleza e diversidade na mídia

À medida que as mulheres passaram a obter vitórias políticas, conseguindo a igualdade jurídica, a discriminação foi deslocada para outros campos. E um tema que merece atenção é o da aparência feminina, pois envolve uma mudança no enfoque do corpo da mulher na mídia.

Por Cynthia Semíramis
Mulheres ainda são avaliadas primeiro – e principalmente – por sua aparência, e não por suas atitudes e qualidades. Resquício de uma época na qual mulher não podia estudar nem trabalhar, a aparência feminina era fundamental para enfeitar o ambiente e se destacar. Porém, os tempos mudaram e hoje não faz o menor sentido adotar a aparência física como critério principal para a avaliação da vida de uma mulher, e de sua atuação profissional.
Um homem não vai ser considerado menos profissional se for careca, idoso ou andar como um pato. Caso não use as roupas da moda, será visto como excêntrico, não como indigno de confiança profissional. Uma mulher será criticada em toda a sua aparência (peso, roupas, esmalte, batom, rímel, sombra, cor e corte de cabelo, espessura e formato da sobrancelha, sapatos, bolsa, brincos, colares e pulseiras) antes de ser avaliada pelo que tem a dizer. Seu peso e sua aparência são tratados como assuntos públicos, como se ela estivesse o tempo todo precisando primeiro ser aprovada como enfeite, e só depois, segundo o ideal de beleza vigente, pudesse ser avaliada e aprovada como profissional.
Essa desigualdade na abordagem da aparência faz com que as mulheres não tenham a mesma igualdade de oportunidades que os homens. A avaliação é feita por critérios desiguais em razão de gênero, e a necessidade de atender a essa pressão faz com que mulheres sejam fortemente prejudicadas em sua vida social e profissional.
Ideal de beleza ignora a diversidade de corpos
Ao longo do século XX, o padrão de beleza criado a partir das medidas da média das mulheres deu lugar ao ideal de beleza, que valoriza um tipo de corpo bem distante da média da sociedade. Em 1950, uma mulher de 1,60m e 63kg era modelo de beleza; atualmente a modelo tem de ter mais de 1,75m e pesar 50kg ou menos. A modelo de 1950 tinha o corpo parecido com o das mulheres de sua época; a de hoje tem o corpo bem distante da realidade da maioria das mulheres.
O modelo ideal de beleza atual, incentivado pelos meios de comunicação de massa, é extremamente limitador: para ser bonita é necessário ser jovem, extremamente magra, alta e com traços europeizados (pele, cabelos e olhos claros, cabelos lisos). Basta andar na rua para perceber que é raríssimo alguém ter todas essas características – e praticamente impossível tê-las ao mesmo tempo.
Trata-se de um modelo que ignora a diversidade racial e cultural brasileira. É absurdo que, para ficar em um exemplo, cabelos escuros e crespos sejam vistos como inadequados e necessitem ser clareados e alisados para se enquadrar em um ideal de beleza que nega a história das brasileiras. Porém, é esse ideal de beleza altamente excludente e alienante que é tratado como único modelo a ser seguido se as mulheres quiserem obter respeito social e profissional.
Infância direcionada para os cuidados com a aparência
Um dos efeitos da obsessão em obrigar mulheres a ter o corpo perfeito está na pressão exercida durante a infância. Ao invés de brincar ou estudar, as meninas são incentivadas a perseguir um corpo ideal desde tenra idade.
Antes de aprender a ler, meninas já aprenderam a usar batom e a ter medo de engordar. É cada vez mais comum encontrar maquiagem e tintura para cabelos específicos para crianças. Saltos altos, tratamentos estéticos e gestos limitados para não sujar roupas ou borrar a maquiagem já são rotina para muitas meninas. Estudar, ter vida social e tentar ser feliz são valores secundários: o que importa é aprenderem a controlar e alterar o próprio corpo para obter a aparência perfeita.
Durante a puberdade, incapazes de aceitar as mudanças em suas formas e o aumento do grau de gordura corporal, muitas meninas se entregam a dietas de emagrecimento, às vezes até dificultando ou impedindo o processo metabólico natural que levará à menarca. O impacto em suas vidas varia de problemas com autoestima e insatisfação duradoura com seu corpo, passando pelo desenvolvimento de distúrbios alimentares e anorexia, podendo chegar à morte.
Igualdade de gênero, violência e declarações de direitos
A pressão para construir e manter o corpo perfeito resulta em violência física e psicológica. Tentar atingir um modelo inatingível gera angústia, estresse e sensação de inadequação. A pretexto de modificar quem não se enquadra no modelo, estimula-se a zombaria e a agressão, chegando ao ponto de agressão física (como os “rodeios de gordas” na Unesp, no qual universitários perseguiam e agrediam suas colegas que estavam acima do peso considerado ideal).
Além da questão da violência, há também a violação do princípio da igualdade. Não é possível ter igualdade de gênero em um sistema que, desde a tenra idade, força as meninas a se perceberem como fisicamente inadequadas e dificulta a inclusão social feminina. Também há a violação dos princípios de proteção ao desenvolvimento físico e mental das crianças e adolescentes.
Declarações de direitos são fundamentais no combate a todo tipo de discriminação contra mulheres, inclusive quando gera violência psicológica. Dentre as diversas declarações e convenções, destacamos a Convenção de Belém do Pará (1994), dedicada a combater a violência contra mulheres. O artigo 6º declara o direito de a mulher ser valorizada e educada livre de padrões estereotipados de comportamento e práticas sociais e culturais baseados em conceitos de inferioridade ou subordinação, e o artigo 8º, g, considera dever do Estado incentivar os meios de comunicação a formular diretrizes adequadas de divulgação que contribuam para a erradicação da violência em todas as suas formas e enalteçam o respeito pela dignidade da mulher.
Combatendo a discriminação em razão de aparência
O combate às discriminações legitima a atuação do Estado em duas frentes: estímulo a políticas públicas de combate à discriminação e incentivo à introdução de mudanças nas áreas de educação e mídia para modificar as relações de poder que estereotipam e patrocinam comportamentos prejudiciais às mulheres.
O Estado brasileiro vem agindo por meio da Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), desenvolvendo atuação específica para questionar e combater os estereótipos sobre mulheres divulgados em anúncios publicitários e programação televisiva. É importante lembrar que o Estado não está censurando nem proibindo, está apenas questionando os valores que são transmitidos pelos meios de comunicação. Ao questionar, propõe mudança de paradigma para que a mídia combata a violência simbólica contra mulheres.
A atuação da SPM, embora louvável e juridicamente correta, ainda é insuficiente. É necessário haver mais envolvimento da sociedade civil e dos demais poderes da República, a exemplo do que ocorre em outros países. Na Suécia, anúncios que exploram o corpo feminino ou que usam mulheres para vender produtos não ligados ao corpo feminino são pichados e sofrem repúdio público. Na Espanha, os desfiles de moda seguem regras para impedir a participação de modelos desnutridas ou jovens demais. Na Inglaterra, anúncios de maquiagem e produtos tidos como rejuvenescedores são retirados de circulação se fica evidente o excesso de manipulação digital da imagem, caracterizando propaganda enganosa.
O Ministério Público de São Paulo tem interferido na indústria da moda com bons resultados. Ao exigir modelos negras nas passarelas e proibir algumas participações (modelos abaixo de 16 anos ou magras demais), abriu espaço para maior diversidade de mulheres nas passarelas.
É necessário ampliar esse tipo de iniciativa para outras áreas. Anúncios publicitários ainda são bastante discriminatórios e o Conar, apesar da pressão da sociedade civil, pouco tem feito para modificar esse quadro. Falta diversidade nas revistas e na televisão: a aparência física da maioria das apresentadoras de telejornais, atrizes e modelos está bem distante da média da população e não representa a diversidade das regiões e dos corpos das mulheres brasileiras.
O descaso com que são recebidas as críticas à falta de diversidade na mídia faz crer que é necessário forçar a implementação de cotas para estimular a diversidade feminina. Também é o caso de efetivamente punir propaganda enganosa ou discriminatória em razão de aparência. Em suma, é necessário agir não só por meio de políticas públicas, mas judicialmente, para impedir que seja incentivado um ideal de beleza excludente que atua para controlar os corpos e restringir a vida das mulheres.
Mulheres são muito mais do que corpos, e corpos são muito mais do que aparência estética. É importante lembrar disso para combater o controle do corpo feminino através da imposição midiática de um modelo estético opressor, que ignora a diversidade e que não contribui para uma vida com mais liberdade para as meninas e mulheres.



Fonte Revista Fórum

Exemplo de Saúde Publica não tercereizada:Porto Velho é referência nacional na detecção do câncer uterino


Porto Velho e Curitiba foram as únicas capitais que alcançaram o mais alto percentual da meta anual (quase 100%) de detecção precoce do Câncer. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), por meio do “Primeiro Informativo Detecção Precoce de 2012”. O registro do Inca apresenta os dados parciais dos indicadores do programa Pacto pela Saúde, relativos ao controle dos cânceres do colo do útero e da mama em 2011 em todo o país. O relatório constata a qualidade da coleta do exame citopatológico do câncer do colo do útero. A quantidade de exames realizados é que permite essa certificação.
O indicador permite avaliar se a quantidade de exames ofertada para a população alvo foi suficiente para alcance da meta de cobertura do Pacto pela Saúde. A média esperada para esse indicador é 0,3, que pressupõe atingir 100% das mulheres elegíveis do programa, a cada três anos. Pouco mais de 60% da meta do Brasil para esse indicador foi alcançada.
O secretário municipal de Saúde de Porto Velho, Williames Pimentel, feliz com o relatório do Inca disse que o resultado é graças à ampliação e reestruturação da rede municipal de Saúde e citou que Porto Velho é o único município de Rondônia que tem laboratório próprio para o exame. E um dos poucos do Brasil com oferta na rede pública que não tem o serviço terceirizado.
“Um reconhecimento vindo de uma das maiores autoridades no assunto é gratificante, pois demonstra que as políticas públicas estão acontecendo. A Saúde é um setor prioritário nesta gestão e posso afirmar que avançamos muito. Hoje realizamos o preventivo em todas as nossas unidades básicas de saúde.
Temos enfermeiros pela manhã e pela tarde, e que depois de colher a amostra faz o devido encaminhamento para o Centro de referência de Saúde da Mulher e em cinco dias sai o resultado. Temos oito citologistas para a atender a demanda e é importante que seja ressaltado que a detecção precoce é que vai garantir logo o início do tratamento com grande chance de cura”, informou.
 Exame mais detalhado
 Pimentel explica que o município também possui hoje o serviço de colposcopia. Um exame para diagnóstico das lesões do colo uterino. “Com ele é possível determinar a localização, tamanho e extensão das lesões. É realizado como exame complementar ao exame de Papanicolau, quando este apresenta alteração ou quando o médico, ao fazer o exame clínico ginecológico, observa alguma alteração que mereça investigação, temos o exame no centro de Especialidades Médicas inaugurado recentemente”, disse Pimentel.
 20 mil exames anuais
 No início da administração do prefeito Roberto Sobrinho, haviam sido realizados 2 mil 754 exames preventivos. Em 2010, 18 mil e 495 exames. E a média no ultimo ano foi de 20 mil. O que revela que houve uma melhoria, extensão do atendimento e qualidade do serviço. “Temos 37 Unidades de Saúde em áreas rurais e 23 em áreas urbanas, todas estas estão equipadas para recolher o preventivo que será analisado no laboratório municipal que fica no Centro de Referência em Saúde da Mulher. Além disso, realizamos mutirões frequentemente tanto na região urbana quanto rural, para incentivar às mulheres a realizarem o exame preventivo”, enfatizou.
 Peculiaridades
 Segundo Pimentel, o câncer que mais mata em todo o país é o de mama. Em Rondônia devido às campanhas e demais ações municipais, principalmente na capital, que resultam no diagnóstico precoce muitas vidas são salvas. “Porém o câncer uterino tem média maior que a mamária. Isto porque a iniciação sexual é muito precoce e há uma multiplicidade de parceiros. Já diagnosticamos o câncer, por exemplo, em jovens de 24 anos”, relatou.
 Dados do Instituto Nacional do Câncer, apontam que estima-se que no Brasil apareçam 18 mil novos casos e 500 mil no Mundo. “Por isso é importante o exame preventivo, pois lesões de baixo e médio grau geram câncer”, afirma.
 Reforço na detecção
 O secretário anunciou a compra de dois equipamentos de videocolposcopia, um aparelho que permite o exame do colo do útero e da vagina com aumento de até 40 vezes e transmite as imagens obtidas para um monitor de vídeo. “Tanto o médico como a paciente verão pelo monitor como está a lesão detectada, permitindo que o profissional oriente o melhor tratamento”, observou. O equipamento tem uma microcamera acoplada a um colposcópio, que permite o exame do colo do útero em maior detalhe. 
As imagens obtidas são transferidas para um sistema de vídeo, onde as mesmas podem ser gravadas, armazenadas e impressas. Com o aparelho é possível identifica a presença de lesões suspeitas, avaliando sua localização, caráter e extensão, realizar biópsia dirigida, evitando biópsia desnecessárias e acelera o diagnóstico e permite um acompanhamento preciso depois do tratamento de lesões.
 “Por essas razões, a colposcopia é uma técnica essencial tanto para a prática oncológica em geral, como para a ginecológica e o Município que já deu um grande salto na detecção de câncer, se tornará ainda mais referência nesta área para todo o país”, complementou.
 Agradecimento
 Pimentel agradeceu e parabenizou todos os profissionais de saúde do município, que atuam na defesa da saúde da mulher. “Cada profissional que trabalha nas campanhas, na divulgação da importância do exame preventivo, nos mutirões, nas unidades de saúde orientando eefetivando o exame, está de parabéns. Todos vocês estão contribuindo para a qualidade de vida das mulheres do nosso município”, finalizou.


Fonte - Rondoniaovivo.com

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Uma escolha Severina

Uma escolha Severina

Autor(es): Debora Diniz
Correio Braziliense - 11/04/2012
 

Antropóloga, professora da Universidade de Brasília e pesquisadora do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis)
Parece que a longa espera pelo julgamento da ação de anencefalia chegará ao fim no Supremo Tribunal Federal. Há oito anos tramita na suprema corte "a ação Severina". Esse nome não é um apelo à história da miséria nordestina cantada pelos versos de João Cabral de Melo Neto, mas é o batismo encarnado em uma mulher agricultora e analfabeta, que divide sua vida entre as plantações de brócolis e o cuidado do filho, Walmir. Severina nunca havia pensado em visitar Brasília, mas está na capital do país para conhecer a corte que cruzou sua vida há oito anos em um hospital público de Recife. Fez sua primeira viagem de avião, acompanhada de Rosivaldo, seu marido.
Severina e a corte se conheceram em 20 de outubro de 2004. Severina saiu de Chã Grande convencida de que passaria uma noite na maternidade em Recife. Estava grávida de 14 semanas de um feto com anencefalia, uma má-formação incompatível com a sobrevida fora do útero. A imagem transparente da ecografia não lhe deixou dúvidas: o feto não tinha cérebro. Rosivaldo exibia a ecografia como uma prova do que os olhos não viam. E, segundo os versos de Mocinha de Passira, repentista que cantou a história de Severina, não se vive "sem a peça genuína". Sem cérebro, não há vida, só uma sobrevida de minutos, horas ou dias.
Severina não foi atendida no hospital. A liminar que autorizava a interrupção da gravidez foi cancelada pela mesma corte que hoje conhecerá em Brasília. Nesses oito anos, Severina não entende bem as razões de tanta espera. Não está claro para os ministros do STF que o feto não irá sobreviver? Não basta conhecer sua dor pelo filme que leva o seu nome para entender que o sofrimento involuntário não dignifica as mulheres? Ela sabe que não falará aos ministros, só ouvirá as razões que já sentiu como uma sentença no passado. Severina deu à luz um feto natimorto que, sem nome e registro de nascimento, foi enterrado em uma cova que ainda hoje desconhece o repouso no cemitério. Mas parece que ainda há dúvidas, senão sobre o diagnóstico letal e irreversível da anencefalia, sobre as razões éticas que levariam as mulheres ao aborto em caso de anencefalia fetal.
Severina se recusa a ser comparada aos nazistas. A escolha severina não é resultado da perversão de um Estado totalitário que oprime e ignora a autonomia das mulheres. Não há eugenia em um regime de liberdade de escolha. Eugenia é uma peça de uma engrenagem de opressão, segregação e discriminação. Nenhum médico forçou Severina a antecipar o parto. O padre de sua paróquia, em vão, tentou demovê-la da decisão, mas Severina estava convencida do que sua dor pedia. A verdade é que ela não tem as vantagens de quem pode prescindir da legalidade, por isso exibe as mãos com que trabalha a terra para demonstrar sua submissão à ordem democrática. Sem o direito ao aborto, sua vida se resumiu a uma longa espera.
Severina não ignora que há outras severinas com pensamento diferente do seu. Há mulheres que desejam manter a gestação, dar à luz e esperar pela sobrevida do recém-nascido. Elas contam outro enredo sobre a gravidez de um feto com anencefalia e algumas exibem seus filhos em sobrevida para quem quiser conhecê-los. Severina sabe as histórias dessas mulheres e respeita suas escolhas. Ela, no entanto, não suportava viver a angústia da ausência do berço e da sombra do caixão pelo filho que não conheceria. A diferença entre ela e essas mulheres é que Severina não é missionária de uma causa, apenas a voz de uma experiência. Hoje, infelizmente, a voz de Severina não é ouvida pela lei penal, por isso seu lamento é solitário.
Severina respeita a vida das pessoas com deficiência. O corpo com impedimentos é uma expressão da rica diversidade humana. Ela não precisa conhecer a primeira convenção do século 21 sobre os direitos das pessoas com deficiência para entender que deficiência não é inviabilidade fetal. Uma pessoa com deficiência reclama seu direito a estar no mundo, mas seu filho natimorto não tinha vida a ser vivida. Por isso, Severina rejeita quem a acusa de assassina ou genocida de deficientes. A ela, junta-se a voz de milhares de pessoas com deficiência no Brasil que se sentem ultrajadas com essa vulgar acusação. Anencefalia não é deficiência — é uma má-formação fetal que a medicina considera irreversível, letal e incurável.
Não sei se há outras dúvidas sobre a ética das mulheres que desejam antecipar o parto em caso de anencefalia fetal. Se não é eugenia, não é homicídio, tampouco genocídio, a pergunta é: por que obrigar uma mulher a se manter grávida contra sua vontade? Minha hipótese é que não há resposta legítima, por isso a Suprema Corte terá a oportunidade de corrigir um erro histórico que ignora os direitos reprodutivos das mulheres. Não há como reparar a dor vivida por Severina, mas há como cuidar das severinas ainda por vir. A todas elas garantiremos que a dignidade das mulheres não se resume à maternidade compulsória.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Mulheres saúdam vitória do Estado laico e da cidadania

wn com dados  do VioMundo (Conceição Lemes em 12/04/2012)
O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou, nesta quinta-feira 12, o aborto em casos de fetos anencéfalos (sem parte do cérebro) no Brasil. O julgamento da ação, proposta pela pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), foi interrompido na véspera e retomado nesta tarde. Coube ao ministro Carlos Ayres Britto dar o voto que dá às mulheres a opção de interromper a gravidez quando o problema é detectado. Até o momento foram todos a favor e só um voto contrário, o de Ricardo Lewandowski.
Beatriz Galli, advogada, integrante das comissões de Bioética e Biodireito da OAB-RJ e assessora de políticas para a América Latina do Ipas:
“Estamos vivendo um momento histórico. Vitória para a cidadania e os direitos reprodutivos das mulheres brasileiras. Finalmente, o Supremo colocará fim à insegurança jurídica que abrange o tema até hoje no Brasil, declarando o direito constitucional das mulheres de optar por continuar ou interromper a gravidez nestas condições, com base na sua autonomia, dignidade, liberdade, saúde física e mental. O Brasil, assim, honrará compromissos e obrigações internacionais decorrentes da ratificação dos principais tratados internacionais de direitos humanos”.
Fátima Oliveira, médica,membro do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução (CCR) e da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe (RSMLAC):
“Do meu ponto de vista, da janela de onde espio e assunto o mundo, uma sociedade democrática deve aprender a referendar a alteridade como um valor. Os votos do STF a favor da antecipação terapêutica do parto em casos de anencefalia colocam em cena dois temas valiosos para quem ama a liberdade: a ampliação da democracia e a consolidação do Estado laico. Eles nos mostram o caminho do aprendizado do respeito ao direito de decidir das mulheres quando não desejam levar adiante uma gravidez de feto inviável, ao mesmo tempo em que também não faz juízo de valor sobre as mulheres que, por questões de fórum íntimo, pensam de modo diferente”.
Gilda Cabral, Cfemea:
“Ao reconhecer o direito de a mulher interromper uma gravidez de anencéfalo, o STF reafirma a laicidade do Estado. Saem ganhando a democracia e o povo brasileiro. Estão de parabéns os Ministros e as Ministras que votaram pela Justiça e pela Vida das Mulheres”.
Jandira Queiroz, ativista feminista:
“Parabéns aos ministros do STF a favor da laicidade do Estado e contra o sofrimento desnecessário das mulheres”
Magaly Pazello, doutoranda da Escola de Serviço Social/UFRJ e pesquisadora do EMERGE/UFF:
“Como bem observaram os ministros e ministras do STF, é necessário não apenas reconhecer a verdadeira via crucis que as mulheres enfrentam quando se vêem gestando um feto anencéfalo, mas também compreender a tragédia que isso pode significar na vida dessas mulheres. A negação de seu sofrimento e a imposição da gravidez compulsória representam, de fato, um regime de tortura imposto pelo Estado e isso é inadmissível. Os votos proferidos ontem revelam a complexidade do tema, mas também o atraso em que o Brasil se encontra na garantia dos direitos humanos das mulheres no tocante à sua autonomia reprodutiva. Por isso, é necessário corrigir essa situação devolvendo às mulheres a devida segurança jurídica para que possam decidir, elas mesmas, conforme suas convicções e crenças. Parabéns ao CNTS [Conselho Nacional dos Trabalhadores em Saúde] e ao Anis [Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero] por sustentarem essa ação até aqui!
Margareth Arilha, presidente da Comissão de Cidadania e Reprodução (CCR), pesquisadora do Núcleo de Estudos em População da Unicamp:
“Um parto vitorioso, nascimento de uma posição saudável cerzida com a contribuição de um coletivo de mulheres e de homens, pessoas que, desde diferentes lugares e posições, acreditaram e fizeram acontecer, iluminando um caminho difícil, ou seja, o de diminuir sofrimentos e injustiças, procurando construir direitos e bem-estar especialmente das mulheres.”
Sonia Corrêa, pesquisadora associada da Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids) e co-coordenadora do Observatório de Sexualidade e Política:
“Os debates de ontem no STF sinalizam para a eliminação da injustiça e sofrimento no mundo da vida. Reconhecidos os argumentos da ADPF 54, milhares de mulheres brasileiras poderão decidir sobre suas vidas sem o constrangimento da lei. É o anúncio de uma vitória de Antígona clamando às portas da cidade. No plano das normas que regulam a vida social –num mundo em que o poder e influência do dogmatismo religioso se espraiam e penetram, incessantemente, nas instituições públicas – foi um momento de re-fundação dos princípios da laicidade, movimento necessário nas condições contemporâneas. A frase do professor Luis Barroso é o seu signo: O estado não engravida”.
Fonte: Grupo de estudos sobre o aborto 
Links relacionados:
Carta do CFEMA: Direito das mulheres à interrupção de gestação de fetos anencéfalos: vitória democrática e laica para o Brasil

domingo, 8 de abril de 2012

Mulheres em foco: cinema e participação política feminina | Psicoviver

E-book gratuito. Leia como ter acesso link abaixo 
Mulheres em foco: cinema e participação política feminina | Psicoviver
O cinema como objeto de estudo para verificar o modo pelo qual a resistência política à ditadura militar foi representada no período a ela posterior, dando destaque à participação feminina. A análise fílmica possibilitaria observar quais elementos estariam presentes em cena para retratar tal questão, e os estudos de gênero permitiria debater de que forma as relações sociais entre os sexos eram abordadas nos filmes selecionados. Trata-se, portanto, de compreender não apenas como a resistência à ditadura é representada, mas, sobretudo, como esse passado é reconstruído nas diversas formas em que pode ser materializado pela perspectiva feminista, considerando que esta trabalha com elementos fundamentais na luta em torno da memória e pelo reconhecimento de histórias esquecidas. Nesse sentido, procuro privilegiar os pontos onde se cruzam os estudos da memória e o pensamento feminista, visto que este atinge profundamente as necessidades de um resgate histórico ao denunciar o esquecimento de reivindicações, lutas e ações das mulheres.