quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Do outro lado do teto de vidro, um penhasco de vidro

Mulheres em cargos de liderança são  julgadas com mais rigor do que os homens, porque as pessoas são mais severas com as mulheres? Ou simplemente  é porque mulheres são piores na liderança que os homens? Ou será que as pessoas estão sob maior escrutínio quando tomam os trabalhos que são geralmente realizadas pelo sexo oposto? Um novo estudo da Yale University’s School of Management sugere que pode ser a última.
Victoria Brescoll, professora  assistente de comportamento organizacional, é especializada em estudar o efeito que os estereótipos têm na percepção do papel da pessoa dentro de uma organização ou corporação. “Havia tanta conversa sobre as barreiras de raça e gênero a serem quebradas”, disse ela, ‘que queria saber  quão bem estavam as pessoas que chegaram do outro lado, depois que conseguiram rompê-las. E normalmente ficam bem, quer dizer, não tão bem.” (More on Time.com: Are Women Less Competitive Than Men?)
A posição difícil dos que quebram o teto de vidro é que frequentemente se vêem colocados  á beira de um precipício de vidro, uma hipótese levantada por dois professores britânicos em 2004. Ele sugere que as mulheres após romper o teto de vidro, são abandonadas em um precipício invisível – em uma posição de alto risco. Um passo errado e elas caem no abismo do fracasso profissional.

Atualmente, com mulheres bem sucedidas em campanhas eleitorais e dominando o ensino superior, parece que os estereótipos estão caindo como carrinhos de fruta em um velho filme de perseguição de carro. Mas isso não significa que os estereótipos  ainda não exercem alguma influência sobre as expectativas das pessoas. E são essas expectativas estereotipadas que podem levar as pessoas a julgarem mulheres que ocupam postos de trabalho tradicionais dos homens (ou homens com empregos tradicionais das mulheres) com mais rigor quando falham. “Os estereótipos prosperam na ambigüidade”, disse Brescoll no estudo, publicado na revista Psychological Science. “Erros criam  ambíguidades  e põe em cheque a competência do líder em questão, que, por sua vez, leva a uma perda de status.” (More on Time.com: Explaining the Complicated Women + Math Formula)
Então foram criados cenários em que pessoas de igual capacidade  trabalhavam  em empregos  tipicamente dominados pelo sexo oposto (como um chefe de polícia mulher ou um homem presidente de uma faculdade feminina) e e onde lidaram mal com crises. Os cenários descreviam o chefe de polícia ou o presidente da faculdade falhando em mandar policiais suficientes ou oficiais de segurança do campus não sabendo lidar com um protesto.  (Em alguns cenários, no entanto, seguindo a tradição, o chefe de polícia era homem e o presidente da faculdade feminina era mulher). (More on Time.com: The State of the American Woman).
Os pesquisadores pediram que 200 pessoas lêssem os cenários. Quando solicitado a julgar o líder que cometeu o erro não muito significativo, os voluntários do estudo disseram coisas piores sobre a pessoa que era do sexo não-típico: o presidente da faculdade feminina e a chefe de polícia. Eles foram julgados com mais rigor do que as pessoas que fizeram os mesmos erros, mas que eram do sexo usual para o trabalho.

Esta diferença de gênero se verificou  quando as tarefas envolvidas eram executada por CEOs de companhias aeroespaciais ou juízes também. Temos a tendência de ampliar os erros de pessoas que achamos que não sabem como fazer o trabalho.

O estudo de Brescoll foi com  pessoas em empregos de status elevado, mas um fenômeno semelhante pode estar em jogo em ocupações de menor qualificação também. Uma história recente no New York Times Motherlode blog detalhou como babás jovens do sexo masculino encontram-se frequentemente em desvantagem, em parte porque todo mundo se pergunta por que um jovem iria querer cuidar de crianças, e em seguida, temem que ele faça o pior. (More on Time.com: Another Clue to the Scarcity of Women Executives)
Se por um lado, é um pouco melhor saber que o preconceito não é apenas dirigido às mulheres, mas “impulsionado por reações aos indivíduos em funções incompatíveis com seu sexo”, como o estudo diz.

Por outro lado, não é uma boa notícia. “Embora as mulheres e as minorias tenham tido progressos para alcançar posições de alto status”, dizem os autores, “o presente estudo chama a atenção para uma tendência perturbadora que pode facilmente prejudicar essas conquistas.”

Em outras palavras, do mesmo jeito que as coisas chegam em um ponto, elas ainda tem um caminho a percorrer.

http://healthland.time.com/2010/12/08/after-the-glass-ceiling-the-glass-cliff/

Na minha opinião, esta pesquisa demonstra que os preconceitos ainda são por causa do questão do gênero. Na verdade estão na origem dos resultados da pesquisa,  porque se não existissem esses papéis generificados , se as mulheres não sofressem preconceitos por exercê-los quando estão em funções ditas masculinas, homens não seriam motivo de preconceito por outro lado.

Fonte Amazonas e Icamiabas

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Com a Mamãe e Papai Noel Construções sociais dos pais na atualidade.



Por José Carlos Sturza de Moraes(*)

Construções sociais dos pais na atualidade.

Com a chegada do final do ano, das festas natalinas e de ano novo, muitos de nós fazemos balanços existenciais. Do que conquistamos e do que queremos para o próximo período. Nossa sociedade se move assim, criando ritmos e modos de viver que parecem naturais, mas que são socialmente construídos. Anos atrás, Martha Medeiros, colunista do jornal Zero Hora, de Porto Alegre/RS, escreveu um texto intitulado Mamãe Noel, onde afirma que Papai Noel não existe porque é homem.

Em Mamãe Noel, Martha, com muito bom humor, retoma a lógica da mulher que conhece brinquedos e lojas e do homem que nem comprar suas meias sabe. O texto é super interessante para as mulheres. Faz-nos rir, inclusive homens, pelo talento de Martha e pelo senso comum impregnado em nossa consciência individual, coletivamente construída. Porém, tenho que discordar de Martha, Papai Noel existe. Ou melhor: momentos como o do Natal são possíveis também porque homens se colocam a tarefa de Noel. Homens também conhecem a Polly, o Max Steel, a Turma da Mônica, e até sabem comprar suas meias.

Aprofundando um pouco mais, entre 1993 e 2007 cresceu em mais de 30% o número de lares classificados como “homens com filhos”, representando 3% do total de famílias brasileiras. Embora, esmagadoramente, sejam as mulheres as responsáveis únicas, cresce também a participação de homens cuidadores tanto individualmente quanto em parceria com a mulher e não só para comprar, mas para levar à pracinha, dar banho, ir à escola e ao médico, etc. O lugar de única capaz do cuidado, inclusive daqueles simbólicos (do universo dos sonhos e desejos), tragicamente é também o lugar da mulher sobrecarregada com o fardo de cuidar dos outros e pouco de si.

Uma contradição já tantas vezes estudada, discutida, e que persiste. E, por outro lado, o do homem como desajeitado, que não sabe cuidar ou, pior, em quem não se pode confiar para o cuidado com crianças, especialmente se pequenas ou meninas, é também trágico: é o da construção da ausência paterna (do pai que não está ou do que está e não se faz presente). Ambas construções, da mulher super (mãe, cuidadora, sábia em relação a criação de filhos) e do homem pouco (pai, cuidador, sábio...) por serem culturalmente construídas, felizmente, podem ser questionadas.

Talvez um exercício interessante neste final de ano seja pensarmos um pouco sobre o quanto realmente nossa mãe, nosso pai, companheiro ou companheira realmente está ausente ou presente e no quanto sabe-faz cuidar de nós mesmos/as e de nossos/as filhos/as. Assim como o quanto deixamos e ajudamos que algo mude ou continue acontecendo.

* José Carlos Sturza de Moraes é cientista social, professor da Escola Técnica José César de Mesquita. Co-autor do livro 'Conselhos Tutelares, impasses e desafios - A experiência de Porto Alegre'

(Envolverde/Pauta Social)

Faleceu a professora e pesquisadora feminista Heleieth Saffioti

Aos 76 anos, faleceu ontem, 13/12/2010, a professora Heleieth Saffioti, professora, pesquisadora e autora de livros sobre a situação das mulheres, incluindo "Gênero, patriarcado, violência" pela EFPA, em 2004 (o livro está esgotado e terá uma segunda reimpressão (atualizada segundo o novo acordo ortográfico) logo nos primeiros meses de 2011.


Nota de Tatau Godinho* sobre a professora Heleieth

Heleieth Saffioti é conhecida internacionalmente como uma das mais importantes pesquisadoras feministas do país. Seus estudos sobre a situação das mulheres no mercado de trabalho no Brasil, desde a década de 1960, são pioneiros na análise sobre as desigualdades entre mulheres e homens, as diversas formas de opressão e exploração no trabalho. Professora de Sociologia, aposentada, da UNESP, e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP, nos últimos anos dedicou-se também ao estudo sobre a violência sexista, acompanhando de perto o problema no Brasil, com abordagem teórica sobre a violência de gênero e análise sobre as políticas públicas nessa área. Em sua homenagem, a instituição que desenvolve a política de apoio às mulheres vítimas de violência na cidade de Araraquara, inaugurado pela prefeitura em 2001, foi chamado Centro de Referência da Mulher “Heleieth Saffioti”.
Sempre identificada com posições de esquerda e progressistas, e sem temer a polêmica que as temáticas feministas costumam provocar, Heleith buscou compreender os mecanismos profundos da exploração das mulheres no capitalismo, insistindo com veemência na relação estrutural entre capitalismo, patriarcado e racismo. Sem abrir mão de suas convicções e com sólida formação acadêmica, Heleieth renovava em suas análises as referências teóricas marxistas e a elaboração dos estudos feministas. Como ela sempre dizia, o nó que amarra classe, gênero e raça constroi as dinâmicas de desigualdade na sociedade contemporânea.
Autora de mais de 12 livros sobre a situação das mulheres, estudos sobre gênero e teoria feminista, sua produção é uma contribuição indispensável para a sociologia brasileira. Sem medo de ser considerada uma defensora radical dos direitos das mulheres, a intelectual, pesquisadora e militante feminista, professora Heleieth Iara Bongiovani Saffioti é uma referência obrigatória na história da luta das mulheres no Brasil.

* Tatau Godinho, socióloga, militante do movimento de mulheres e integrante do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo