Agora, caro leitor, você pode reler o primeiro parágrafo trocando a palavra tuberculose por outra doença a sua escolha.
Imagem: Campanha de Carnaval 2011 do Ministério da Saúde. Direcionada às mulheres na faixa etária de 15 a 24 anos, das classes C, D e E. |
Infelizmente ainda não aprendemos a separar fatalidade de julgamento moral, imponderável de preconceito. Num passado não muito distante ainda se falava de grupos de risco para falar das pessoas infectadas pelo HIV. Era como se um selo fosse colado na comunidade homossexual, nos usuários de drogas, nas prostitutas e até nos hemofílicos que faziam regularmente transfusões de sangue.
A classificação em grupos de risco além de marginalizar ainda mais os marginalizados serviu para criar uma aura intocável nos famosos “cidadãos de bem”. Se você não sai transando por aí, ou tendo comportamentos socialmente condenáveis, fique tranquilo, está a salvo, jamais a Aids chegará perto de você. Basta você ficar bem longe desses “aidéticos”. E isso fez com que a epidemia se tornasse silenciosa. O estigma social fez com que muitas pessoas abrissem mão da prevenção, achando que estavam imunes.
O resultado é que anos depois da descoberta do vírus, a epidemia de AIDS está longe de ser controlada, e hoje ela atinge todas as camadas da população; se tornou democrática, atingindo diversas classes sociais e orientações sexuais. E o dado mais contundente sobre a AIDS nos últimos anos é que a epidemia avança de forma muito mais arrasadora entre as mulheres.
Os dados são do Boletim Epidemológico de 2005. De 1994 a 2004, o número de casos aumentou 175%, enquanto o crescimento em homens ficou em 29%; o índice aumenta em mulheres de todas as faixas etárias, exceto entre mulheres jovens de 13 a 24 anos.
Especialistas apontam na resistência de homens e mulheres em relações estáveis exigirem o uso de preservativo. A pressuposta monogamia e a baixa auto estima fazem com que a prevenção seja deixada de lado, como aponta a ginecologista e especialista em saúde da mulher Albertina Duarte. Mulheres acima de cinquenta anos não fizeram parte de uma geração acostumada com a liberdade sexual nem conviviam com o fantasma da doença no início de suas vidas sexuais. Muitas estão recomeçando uma vida sexual com um novo parceiro e não acostumadas as novas regras do jogo sexual acabam achando que a confiança na relação basta para protegê-las.
É sempre bom lembrar que o comportamento de risco não escolhe credo, cor, raça. É repetitivo bater nessa tecla, mas no Brasil 95% das contaminações acontecem via sexual e a única maneira de se proteger é usando camisinha. É sempre bom lembrar que apesar do coquetel aumentar a qualidade de vida, a AIDS ainda não tem cura. É sempre bom lembrar que a epidemia de AIDS é uma realidade, é presente no nosso dia a dia, que cara de saudável não garante nada. É sempre bom lembrar dessas coisas que nós fazemos questão de esquecer tão convenientemente: o HIV não é coisa do outro, do diferente. É coisa do próximo, de quem amamos, respeitamos, de quem está do nosso lado no metrô, no trabalho, em casa, na vida.
Nesse dia primeiro de dezembro, vamos lembrar do óbvio, que o laço vermelho não simboliza apenas a luta de combate à AIDS, mas é também a luta pela vida e contra uma doença muito mais perigosa, letal e difícil de combater: o preconceito.
Fonte:
Um laço vermelho pela vida e contra o preconceitoBlogueiras Feministas | Blogueiras Feministas
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