Quando pensamos em violência contra a mulher, a primeira ideia que passa pela nossa cabeça é, certamente, a da violência doméstica. São tantas as mulheres que têm a sua integridade física violada diariamente que acabamos “condicionando-nos” a conceber este tipo de violência como “padrão”. Entretanto, a violência contra as mulheres é exercida de maneira bastante plural, muitas vezes, camuflada em forma de propaganda, piada ou cena de novela/programa de TV.
Neste âmbito, a televisão é uma das principais difusoras e perpetuadoras de tal condição. Por mais que a internet esteja cada vez mais acessível para grande parte da população de nosso país, a televisão ainda é o meio de comunicação mais popular e mais utilizado pel@s brasileir@s. São milhões de pessoas que assistem, todos os dias, atrações que ao invés de educar ou de promover a tolerância e a cidadania, reforçam estereótipos e preconceitos. Estes, quase sempre, envolvendo a mulher.
Ao longo deste ano, pudemos observar vários exemplos desta violência “velada”. Logo no início de 2011, quando tomou posse a primeira mulher presidente (presidentA, por que não?) do Brasil, vocês lembram qual foi o “destaque” deste marco histórico? A beleza de Marcela Temer, esposa do Vice-Presidente Michel Temer, e as já esperadas comparações entre ela e Dilma. E tais comparações fundamentadas exclusivamente pela aparência das envolvidas, como se isto tivesse qualquer relevância ao que se refere à política. Um pouco mais adiante, uma série de piadas de mau gosto proferidas pelo humorista Rafinha Bastos evidenciaram um profundo desrespeito pelas mulheres, pois engendravam assuntos como estupro, amamentação e gravidez em um tom bastante jocoso.
Recentemente, houve também o caso da propaganda da marca de lingeries Hope, onde a top model Gisele Bündchen aparecia trajando roupas íntimas da marca para “explicar do jeito certo” para o marido situações como a de bater o carro, reforçando o estereótipo da mulher “decorativa” e dependente.
E como se não bastasse tudo isso, novelas exibidas em horário nobre mostram cenas com uma conotação extremamente machista. Para ilustrar tal afirmação, no capítulo de ontem da novela Fina Estampa foi ao ar uma cena em que uma médica, perseguida e assediada por um rapaz jovem e bonito, acaba cedendo às investidas dele e age passivamente. O personagem masculino ainda afirma que “sabe do que ela precisa”, o que remete ao pensamento de que toda mulher só está completa se tiver um homem ao seu lado.
Estas são apenas algumas das situações que demonstram como a mulher é desrespeitada pela mídia. Mídia que deveria fazer de tudo para que os direitos delas (e de todos) sejam garantidos. E, enquanto formadora de opinião, deve ser responsabilizada por aquilo que exibe e dissemina. Afinal, como podemos lutar pela equidade entre gêneros se os próprios meios de comunicação não colaboram para quebrar paradigmas?
A violência contra a mulher deve ser combatida em todas as suas formas. Uma simples piada pode fomentar uma atitude que envolva a violência física. Uma simples cena de novela pode justificar e naturalizar um comportamento agressivo. As tentativas de diminuir a importância de uma mudança significativa em nossa política podem ser os primeiros passos para validar uma relação de poder norteada pela injustiça.
Por isso, defender a regulamentação daquilo que lemos ou assistimos é uma forma de prevenção à violência contra a mulher. E, por favor, não chamem isso de censura. A mídia não é “terra de ninguém”, onde todo mundo fala o que quer e confunde liberdade de expressão como um passe livre para agredir e humilhar.
Fonte : O papel da mídia no combate à violência contra a mulher: transgredir ou perpetuar paradigmas?Blogueiras Feministas | Blogueiras Feministas
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
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