domingo, 19 de fevereiro de 2012

Para (re)lembrar: quem ama NÃO mata

Cláudia Gavenas - Blogueiras Feministas

Hoje, passados exatos três anos e cinco meses de um crime que chocou o país, Lindemberg Alves irá a julgamento. Júri Popular, composto por pessoas que são, em sua maioria, gente como eu ou como você. Cidadãos comuns. E está nas mãos dessas pessoas o poder de decidir entre a impunidade e o esquecimento e a obrigação moral de dar o exemplo. De justiça. De fazer com que a sociedade lembre-se sempre que pelo menos mais um crime de gênero foi punido.

Ana Carolina Pimentel, mãe de Eloá, segura álbum de fotos da filha. Foto de Clayton de Souza/Agência Estado.
Eloá tinha 15 anos quando foi mantida presa dentro de sua própria casa e após alguns dias, brutalmente assassinada pelo homem que dizia amá-la. De acordo com familiares e pessoas próximas, era uma garota alegre e cheia de vida. Adolescente. Não foi a primeira e nem será a última a ter a existência ceifada em nome de uma relação de poder, de um sentimento de posse ou de dominação. Não em nome do amor ou por ciúme. Tampouco por parte de um “desequilíbrio mental ” oriundo de seu algoz.
Apesar das inúmeras tentativas de compreender ou de buscar qualquer justificativa para tanta violência, para tantos casos repetidos cujo os criminosos são namorados, companheiros ou esposos das vítimas, nada além do ódio me vem à cabeça. Lindemberg e muitos outros mataram porque tinham ódio de suas companheiras. Ódio por saberem que elas não eram propriedade deles, com a qual poderiam fazer o que quiserem. Não poderiam mandar e desmandar nas vontades delas.
Um fato curioso ( para não dizer outra coisa) sobre esses tipos de crime – os crimes de gênero, feminicídios – é que a mídia, ao invés de ser uma aliada no combate à violência contra a mulher, acaba transformando-os em uma forma perversa de manter audiência. Tratam deles como se fossem casos isolados ou como se acontecessem esporadicamente. Ou como crimes passionais, motivados pelas razões que descrevi. Será que toda a comoção gerada em nível nacional não serviria para garantir que mais mulheres não sejam mortas com tanta covardia?
Torço para que o julgamento que começou há pouco não abra espaço para a impunidade. Entretanto, o que eu gostaria mesmo é de nunca mais ter que ouvir falar de tragédias como a que ocorreu com Eloá. Ou de ver famílias inteiras destruídas por conta da dor causada pela permissividade dos nossos valores em relação à certos comportamentos ditos “masculinos”. Quem ama, não mata. Lembrem-se sempre disso.
Alguns textos excelentes para compreender mais sobre crimes e violência de gênero:
Eloá Pimentel, um crime de gênero, por Maíra Kubík Mano;
Os homens são todos Ogros?, por Niara de Oliveira;
Crime Passional, por Lis Lemos.
Para (re)lembrar: quem ama NÃO mata

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