Este post foi escrito coletivamente por: Suely Oliveira, Lia Padilha, Natalia Silveira, Marcelo Caetano, Catarina Correa e Thayz Athayde.
Chegamos cedo ao Palácio do Planalto para a posse da nova ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Eleonora Menicucci.
No auditório lotado, com a presença de 24 ministros, personalidades políticas, ex-presos políticos, feministas históricas e muita gente da sociedade civil. Ouvimos os discursos de Iriny Lopes, que esteve à frente da secretaria em 2011, de Eleonora Menicucci, que aguardamos com grande expectativa e, por último, o discurso da presidenta Dilma Roussef.
Iriny Lopes, que chegou ao cargo sem experiência no executivo e sem trajetória feminista, nos emocionou em seu discurso que deixou transparecer, em vez de uma gestão recuada como pensávamos, uma tentativa de acertos travada com muito suor. Todo seu discurso exalava um orgulho e honra muito grandes por ter tido a oportunidade de contribuir para melhorar a vida de muitas mulheres brasileiras.
No momento dos agradecimentos, a ex-ministra deu ênfase ao movimento feminista: “gostaria de agradecer às feministas, que lutam e sempre lutaram por igualdade e dignidade pras mulheres. Posso daqui reconhecer vários rostos feministas. Pobres daqueles sem causa. As pessoas precisam ter uma causa.”
E, nos agradecimentos à equipe da SPM, agradeceu às mulheres e aos homens, segundo ela, tão feministas quanto às mulheres: “O movimento feminista também precisa dos homens”. Desejamos sucesso na sua candidatura à prefeitura de Vitória, Espírito Santo.
Era a vez de Eleonora Menicucci se pronunciar. Ex-presa política, feminista histórica que dedicou a vida aos seus ideais de igualdade e justiça social e, principalmente à luta pela pelo direito das mulheres. Seguiu carreira acadêmica e, como docente universitária, pesquisadora e pró-reitora adquiriu experiência e conhecimentos vastos na temática de gênero, entre eles em direitos reprodutivos e sexuais, saúde integral da mulher e políticas públicas de saúde. Tendo posição pública e histórica a favor da descriminalização do aborto.
O discurso da Eleonora, com sua biografia ao fundo, transcendeu as palavras e nos levou a um imaginário de outro mundo possível. Porque dali parecia vir uma força política capaz de transformar a SPM em um instrumento eficaz de mudanças.
Sobre sua trajetória política a ministra afirmou que: “o engajamento na luta contra a ditadura nos ensinou a lidar com as adversidades e a nunca nos omitir diante de uma situação, por mais difícil que venha a ser”. Ao fazer uma homenagem às mulheres, suas companheiras, que lutaram e morreram na luta contra a ditadura, foi muito difícil conter as lágrimas. Todos os presentes se levantaram. A comoção foi geral.
A ministra também homenageou as vítimas de violência sexual e falou de sua trajetória profissional. Afirmou que buscará novos caminhos e novas soluções para garantir os direitos das mulheres, com atenção especial às empregadas domésticas, desprotegidas pela legislação trabalhista vigente. Ao agradecer à família, questionou até os plurais masculinos da língua portuguesa: “agradeço também à Maria e Gustavo, minha filha e meu filho, porque não falo meus filhos…”.
No discurso da Dilma, a presidenta também lembrou a luta pela democracia ao lado de Eleonora e quando dividiram a dura experiência no Presídio Tiradentes, em Minas Gerais: “Foram momentos em que o caráter, a dedicação às convicções e às causas são testados à exaustão. Por isso eu tenho certeza que meu governo ganha hoje uma lutadora incansável pelo direito das mulheres”.
A presidenta afirmou ainda que a feminista Eleonora vai compor o governo mais feminino que o Brasil já teve, não apenas porque tem uma mulher na Presidência da República e dez mulheres à frente dos ministérios. Mas porque homens e mulheres do governo reconhecem a importância da mulher e seus direitos na sociedade.
Sobre a discussão do aborto todos nós sabemos que estamos submetidos à agenda do poder legislativo e por um executivo acuado diante da configuração conservadora no parlamento. Dilma fez questão de deixar claro em seu discurso: “a ministra respeitará seus ideais, mas vai atuar segundo as diretrizes do governo, sobre todos os temas os quais terá atribuição”.
Apesar disso, há uma esperança interna do movimento feminista de que no interior do governo a ministra irá pautar a temática da descriminalização do aborto nas politicas públicas. E, adotando esse caminho, ela contará com o apoio de muitas mulheres brasileiras. Vamos torcer.
Em termos políticos o maior foco e destaque foram dados, pelas três, ao combate à violência contra a mulher. Todas ressaltaram a importância da Lei Maria Penha, fundamental e primordial nesse enfrentamento, e comemoraram a feliz coincidência da decisão do Superior Tribunal Federal no dia anterior, que reconheceu a constitucionalidade da Lei Maria da Penha e garantiu mecanismos legais para punir os agressores mesmo sem denúncia da vítima.
Encerrados os discursos nós sabíamos que tínhamos presenciado um momento único para todas as mulheres do país. Um momento histórico na política nacional em que discursos, sentimentos e pessoas estavam voltados para a superação das desigualdades de gênero. Foi também um momento de inspiração feminina ao nos ver representadas por três grandes mulheres, à frente do governo, com trajetórias distintas de protagonismo e muita luta.
Da solenidade de posse, seguimos para o almoço no palácio do planalto, e participamos na SPM da cerimônia de transmissão de cargo. No evento, Eleonora novamente discursou e em homenagem ao movimento feminista disse que fez questão de se vestir de lilás. Concluídas as formalidades, conseguimos cumprimentar a nova ministra nos apresentando como blogueiras feministas. E para a nossa feliz surpresa, a ministra que parecia exausta, em meio ao assédio da multidão, abriu um sorriso pra gente, levantou os braços e vibrou: “eeeeeeee, as blogueiras”.
Finalmente chegamos ao auge do nosso dia, conseguimos participar de uma coletiva com a nova ministra. Segue a entrevista na íntegra:
BF: Na sua época de juventude, as bandeiras eram mais definidas. Como “abaixo a ditadura” “Viva o socialismo”. E hoje parece que o jovem está sem bandeira. Qual é pra você a principal bandeira do mundo de hoje e o mundo que você quer deixar para seus filhxs e netxs?
Ministra Eleonora: Muitas bandeiras são as mesmas da época da ditadura, e a principal delas é uma sociedade sem desigualdade social. A segunda delas é uma sociedade sem desigualdade de gênero em que as mulheres exerçam seus plenos direitos e sejam valorizadas. Mas por último eu diria que a bandeira é pelo amplo projeto democrático, ou seja, igualdade política, social, econômica, de gênero e o respeito a todas as diferenças. As diferenças não podem ser consideradas como desigualdades.
BF: Quais são os principais instrumentos, ferramentas e estratégias para derrotar o machismo na nossa sociedade? Como objetivamente enfrentar um problema que é cultural, e tão impregnado na mentalidade das pessoas?
Ministra Eleonora: Principalmente por meio de campanhas, muita campanha. Mas esse não é um fato que vai mudar de um dia pro outro. Não é porque está à frente do ministério das mulheres uma feminista, que o machismo vai acabar. Não é só porque eu gostaria que a violência contra a mulher não existisse, por exemplo, que ela deixará de existir. Essa luta depende de cada uma de nós; é um processo muito longo. Mas nessa luta, nós precisamos garantir a transversalidade com todos os ministérios para garantirmos esse trabalho em conjunto, como com o ministério da educação, cultura e saúde, por exemplo.
BF: A sua nomeação foi bastante comemorada pelos movimentos feministas que andavam bastante incomodados com a MP557, especialmente com a inclusão do termo nascituro. A senhora é, portanto, uma feminista na gestão pública e eu queria saber quais os principais desafios para os próximos três anos?
Ministra Eleonora: Primeiramente, eu só posso fazer planos enquanto eu estiver aqui, na titularidade. Se forem três anos ótimo, mas não sabemos, a presidenta é quem vai dizer. Eu vou investir cotidianamente na relação concreta com todos os ministros desse governo. Eu quero um diálogo transformador. Vou investir na relação com a bancada feminina, que a SPM já vem estabelecendo há algum tempo. Por fim, queria vou defender sempre uma sociedade onde se respeite as diferenças, uma sociedade sem preconceitos, pois só assim é que se pode ser feliz.
BF: Nós gostaríamos de saber se tem alguma coisa que a senhora não falou ainda e que gostaria de falar para todas as pessoas.
Ministra Eleonora: Primeiramente gostaria de dizer que vocês são muito simpáticas e que as portas estarão sempre abertas para vocês. Gostaria também de dizer que continuem fazendo o controle social. Vocês estão entendendo o que eu estou falando? O bom controle social.
Saímos confiantes da entrevista. O dia 10/02 é um dia que ficará marcado para nós Blogueiras Feministas, como um dia de esperança muito especial. Estamos na torcida e desejamos muito sucesso e realizações à nova ministra!
[+] Esperança – Suely Oliveira comenta a posse da nova ministra.
Blogueiras Feministas na posse de Eleonora Menicucci
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