por Luciana Holtz*
“Eu quero que todas as mulheres do Brasil tenham acesso às mesmas coisas que eu tive. Sou beneficiária de uma prevenção. Eu tive um câncer, o câncer foi detectado no princípio e eu tive um processo de cura.” A presidente Dilma Rousseff pronunciou tais palavras durante o lançamento das ações de fortalecimento dos programas nacionais de controle do câncer de mama e do colo do útero, em Manaus, no dia 22 de março. Os programas, que integram a Política Nacional de Atenção Oncológica, apresentam ações de abrangência nacional previstas para os próximos quatro anos – com investimentos da ordem de R$ 4,5 bilhões –, de controle do câncer de mama e do colo do útero, neoplasias mais incidentes entre mulheres brasileiras, e que, se diagnosticadas precocemente, apresentam grandes chances de cura. O Brasil terá, este ano, aproximadamente 18,5 mil novos casos de câncer de colo de útero e 49,2 mil de câncer de mama, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A ampliação da cobertura nacional à mamografia, a criação de 20 centros especializados no diagnóstico e tratamento do tumor no colo do útero nas regiões Norte e Nordeste, e o prazo máximo de 60 dias para o início do tratamento das mulheres diagnosticadas com câncer, foram medidas destacadas pela presidente, mulher curada de um câncer e consciente da importância imperativa na atenção especial à saúde da mulher.
Para que mulheres brasileiras atingidas pelo câncer tenham chances reais de vencê-lo, assim como Dilma Rousseff, algumas prerrogativas são essenciais e fundamentais. A presidente brasileira, assistida pelas mesmas leis que quaisquer das quase 97,5 milhões de conterrâneas, está curada, pois teve acesso ao diagnóstico precoce, foi assistida por profissionais altamente qualificados, realizou a cirurgia diagnóstica imediatamente após ter os primeiros sintomas, obtendo rapidamente o diagnóstico de câncer, iniciou as fases do tratamento posteriores ao diagnóstico em curto espaço de tempo, teve acesso às drogas mais modernas do mercado, mesmo as não incorporadas na lista do Sistema Único de Saúde (SUS) na época do seu tratamento.
O Brasil tem avançado na formatação dos programas de prevenção aos cânceres que atingem a mulher, porém estes avanços ainda não levaram à grande adesão que seria necessária para reduzir as mortes pelo câncer.
Diretrizes de tratamento propostas pelo Ministério ainda deixam de contemplar importantes aspectos necessários à erradicação das mortes pelo câncer de mama e colo de útero. A idade mínima para o rastreamento do câncer de mama, por exemplo, recomendada pelo Ministério da Saúde é de 50 anos, em descompasso com a idade de 40 anos que é consenso entre oncologistas e mastologistas. Ainda em relação ao câncer de mama, a não incorporação no SUS de medicações que alvejam a proteína Her-2 (presente em um quarto dos casos de câncer) tira a chance de cura ou de prolongar a sobrevida de um grande número de mulheres a cada ano. Sobre o câncer de colo de útero, a não incorporação da vacinação para HPV não se justifica, já que toda a estratégia de rastreamento não tem conseguido a adesão necessária à redução da mortalidade e, sabidamente, a vacina eliminaria mais de 90% das lesões precursoras do câncer. Também, a formatação de projetos regionais de educação em saúde deve ser avaliada.
O tratamento que livrou a presidente Dilma Rousseff do câncer foi de excelência incontestável. Quando todas as mulheres e homens brasileiros atingidos pela doença forem atendidos com a mesma primazia, a realidade do câncer no país – ainda demarcada por barreiras quase instransponíveis como o alto grau de desinformação, baixo acesso às ações e serviços de saúde e a não prontidão na realização de todas as fases do tratamento –, será diferente.
Queremos um Brasil sem preconceito, sem sofrimento e sem mortes causadas pelo câncer.
* Luciana Holtz é presidente do Instituto Oncoguia.
** Publicado originalmente no site EcoD.
Fonte; Universidade Livre Feminista
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