terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pesquisa sobre comportamento de adolescentes é destaque na imprensa


Pesquisadores do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (CLAVES/ENSP) realizaram um estudo sobre o comportamento dos adolescentes nas relações amorosas. A pesquisa foi destaque no Programa Globo Repórter da última sexta-feira (30/7).

A pesquisadora do Claves Simone Assis destacou que a principal questão é que homens e mulheres se relacionam de uma forma muito permeada pela violência. Como se isso fosse natural e como se fosse a forma mais comum de se transformar num ser humano adulto, desde cedo.

Abaixo, segue a íntegra da matéria.

Ciência descobre novos ingredientes na velha guerra entre os sexos

A pesquisa feita pelo Centro de Estudos da Violência da Fiocruz descobriu que 90% dos casais jovens trocam ameaças e agressões.

Os jovens acreditam que, quando o assunto é conquista, eles são os reis da experiência. As meninas afirmam que só se pode dizer que está apaixonado, quando já se está namorando. Isso para evitar o desdém por parte dos meninos. Elas e eles. Nessa idade, já entenderam que cabeça de menino é bem diferente da de menina.

"As meninas gostam de, às vezes, prender o homem. Então, a única maneira de prender o homem é namorando", diz Eduardo Pinto, de 17 anos.

"O homem, não. Ele sente ciúme, ele quer namorar. porque ele não quer que você fique com mais ninguém", afirma Nathália Krugger.

Mas assumir um namoro só em último caso. Antes disso, eles querem ficar. Palavra comum no dicionário amoroso dos adolescentes. E cada vez que surge uma nova modalidade de relacionamento, a coisa se complica. Será que é namoro? Ou é rolo mesmo?

"Não sabe se está ficando, não sabe se tá sozinha, não sabe se está namorando, não sabe se pode ficar com outras pessoas, não sabe se só fica com a pessoa. Aí está enrolada. Você está completamente enrolada" conta Gabriela Haddad, de 17 anos.

Só que nem tudo é tão moderno assim na vida deles.Quer um exemplo? Ainda são os meninos que têm que pedir as meninas em namoro. E as meninas ainda se preocupam com o que eles vão dizer. Se elas ficam com muitos garotos, têm medo de ficar faladas.

"Se você ficando não dá o seu respeito, você faz tudo o que ele deixa, você já perde o seu valor para namorar", diz Ingrid Freitas, de 17 anos. Quando se trata de sexo, o pensamento é unânime: só se estiver namorando.

Mas as regras nunca são muito claras. Estas pesquisadoras mergulharam no universo adolescente. Entrevistaram mais de três mil jovens em 10 capitais brasileiras.

"Tem o ficar que você só dá um beijo, outro que você abraça e outro que você transa. Então não existe essa fita métrica, que é igual para todos os jovens", afirma a pesquisadora do ENSP/ FIOCRUZ, Simone Gonçalves Assis.

"Namorando você tem que ser fiel a pessoa que você está junto. E ficando não. Ficando você gosta de estar com ela, mas vocês não têm nenhum compromisso e você pode ficar com outra pessoa" conta Mayra Costa, de 17 anos.

A pesquisa feita pelo Centro de Estudos da Violência da Fundação Oswaldo Cruz descobriu que nem tudo é cor de rosa nos relacionamentos da adolescência. A guerra dos sexos começa cedo: 90% dos casais jovens trocam ameaças e agressões.

"Acho que essa é a principal questão: homens e mulheres se relacionam de uma forma muito permeada pela violência. Como se isso fosse natural e como se isso fosse a forma mais comum de se transformar num ser humano adulto, desde cedo", revela Simone.

"Quem dera todos tivessem o autocontrole da Gabriela: "eu acho que xingar no seu quarto, sozinha, com a porta fechada, aí sim, aí você xinga, chora. Mas quando você está na frente dele, respira, mantém o salto, aí você fala 'olha só, eu não gostei disso', como se fosse uma coisa super controlada."

Adolescência é fase de descobertas. Meninos e meninas são apresentados a um novo sentimento, a paixão. E têm que aprender a conviver com o outro. É só o começo, esse aprendizado dura a vida inteira. Algumas vezes, o equilíbrio num relacionamento só vem bem mais tarde. Quando já não se tem mais tanta ilusão. Mas sempre é tempo de viver um grande amor.

O casal Nádia Nilo, de 52 anos, e Fernades Moraes Filho, de 48 anos, estão apaixonados. E quando perguntados se esse sentimento era adolescente, ela responde: "um filho de uma amiga minha diz que nós somos envelhecentes." São "envelhecentes" há 10 meses. Quando redescobriram a paixão num baile. "Aí eu esperei o baile terminar, fomos para o bar tomamos cerveja", conta Fernandes.

Os filhos deles estão sabendo do namoro agora, em rede nacional. Nádia e Fernandes garantem que a emoção é a mesma. No começo dá aquele friozinho na barriga. O que é diferente agora é que eles nem pensam em se casar.

"Juntar pacotes, histórias, é muito difícil. Você se adaptar a estas histórias, eu acho muito difícil. Eu posso até não saber tudo o que eu quero. Mas com certeza eu sei tudo o que eu não quero mais.", diz Nádia.

Nádia quer uma relação tranquila, sem cobranças. Mas quando se tem 15 anos isso não é muito fácil.

"Eu não gosto de ficar sendo possessiva, porque eu acho que prejudica mais a mim do que aos outros. Eu fico sofrendo por causa daquilo. Mas eu acho que é uma coisa que eu não consigo controlar", afirma Bruna Ferreira.

Gabriel Silva, de 18 anos, conta que elas controlam a vida deles: "vê mensagem, vê ligação: 'Porque você não me atendeu? Tava jogando futebol. Quem tá aí? O pessoal todo'. Quer saber o nome de todo mundo. Que horas vai começar, que horas vai terminar."

Neste casal experiente, ele ainda tenta controlar a vida dela. Pois é, nem tudo passa com a idade. Mas o namoro maduro tem vantagens. A vida ensinou Nádia a estabelecer limites. Seria esta a receita para um relacionamento que os pesquisadores chamam de saudável?

"Saudáveis de que forma? Que não seja imposição da vontade de um sobre o outro, que as pessoas se coloquem na relação, é isso que eu quero, é isso que faz bem para mim, é isso que faz bem para você", aconselha a pesquisadora Simone.

Fonte: Globo Repórter

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Grata por sua contribuição.