A Revista Fapesp Online traz a pesquisa do sociólogo Richard Miskolci que observa a obra de Machado de Assis, assim como a de outros escritores do final do século XIX, em sua pesquisa O desejo da nação, que tem apoio da FAPESP. Ao usar como fontes não só os discursos literários, como também políticos e científicos, ele pretende combinar reconstituição histórica e análise sociológica para compreender como interesses político-sociais levaram ao controle da sexualidade, notadamente da homossexualidade entre homens brancos da elite.
Ao contrário das representações dominantes hoje sobre o Brasil, de permissividade ou liberdade sexual, o pesquisador argumenta que nos caracterizam convenções culturais próprias ainda pouco analisadas. “Identificá-las é um desafio”, explica. “Quero compreender como estamos inseridos em formas específicas de controle e ‘agenciamento’ do desejo e até mesmo qual é nossa gramática erótica própria.”
O trio de personagens de Dom Casmurro, obra de 1900, ilustra o que Miskolci denomina de “heteronormatividade à brasileira”. Bento só consegue assumir seu papel de marido e pai de família “escorado” em sua amizade-amor por Escobar. “Não se trata da exclusão do homoerotismo. Antes, é sua contenção e disciplinamento dentro de um triângulo amoroso que direciona os homens para relações heterossexuais reprodutivas”, explica. As relações heterossexuais brasileiras, vistas a partir de Dom Casmurro, se fundam, assim, tanto em um vínculo disciplinado, mas profundo, entre dois homens, quanto na relação com a mulher, avalia o pesquisador.
Não se trata de traçar uma história dos homossexuais ou da homossexualidade na sociedade brasileira. O pesquisador diz que seu objetivo é contar a história da formação do nosso ideal de nação em uma perspectiva subalterna, ou seja, uma história “dos outros”: excluídos, abjetos, marginalizados por sua sexualidade não normativa. Seu levantamento busca encontrar, nas sombras, os desejos proscritos e impossíveis, os amores silenciados.
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