Pesquisa do Instituto Avon confirma que os estereótipos de gênero continuam fortes na sociedade brasileira. Mulher não pode ficar bêbada e nem gostar de sexo, segundo o estudo
por Nádia Lapa — Carta Capital
Venho de 1920 com algumas novidades. Segundo apurei por aqui,
- 89% dos homens acham absurdo que a mulher não mantenha a casa em ordem;
- quase metade dos homens entende que sexo é coisa de homem - mulher não sente necessidade disso!
- 69% dos homens acham inaceitável que uma mulher saia de casa sem o marido;
- se ficarmos bêbadas, então, 85% dos homens nos reprovam. Não é o comportamento de uma dama. Onde já se viu?
- 1 a cada 2 homens vigiam o que vestimos. Nada de sair por aí com roupas justas ou decotadas.
1920? Opa, me confundi. 2013, mesmo, de acordo com a pesquisa do Instituto Avon sobre violência doméstica lançada hoje.
A pesquisa, feita a cada dois anos, traz dados alarmantes sobre a violência contra mulheres (um exemplo: a cada uma hora e meia, uma mulher é morta no Brasil em razão... de ser mulher). Mas a questão aqui é sobre como ainda estamos atrasados nos estereótipos de gênero, isto é, naquela velha história de que há "coisas de homem" e "coisas de mulher".
Pior ainda: as "coisas de mulher" parecem imutáveis na cabeça dos homens. Até hoje metade deles acredita que mulher não sente necessidade de sexo. Devem achar que não temos prazer com isso, afinal. Temos, sim, dependendo de quão libertas somos e da qualidade dos nossos parceiros (quanto mais libertas, melhores os parceiros).
Segundo as descobertas - e as perguntas foram feitas para homens! - nós não podemos ainda sair, beber, enfim, nos divertir. Afinal, se sairmos, quem cuidará da casa? E a casa, como vocês bem sabem, cabe à mulher cuidar.
Eu fiquei assustada com esta parte de gênero da pesquisa. Porque, sinceramente, ainda que os números de feminicídio e estupros maritais me desesperem, eu já os conheço. Não há um único dia em que se abra qualquer jornal e não se veja alguma notícia tenebrosa sobre violência contra a mulher. Porém, eu pensava que estávamos mais modernos no que se refere aos papéis de gênero; que já havíamos entendido que não há nada inerentemente masculino ou feminino; que pelo menos na teoria nós somos iguais, eu e você, homens e mulheres. E, por nossa igualdade, nossos atos em espaço público e doméstico seriam julgados da mesma forma. Ou "não julgados", melhor, ninguém tem a ver com a vida de outrem.
Claro que não sou ingênua e sabia que alguns homens queriam que estivéssemos em 1920. Eu só não esperava que fossem tantos. Eu sugiro a esses homens que eles venham para 2013. Não é exatamente legal aqui, tem muita coisa horrível acontecendo, mas no que se refere à igualdade dos gêneros é um lugar bem melhor do que há cem anos. Ou, pelo menos, deveria ser.
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