domingo, 24 de junho de 2012

A Insustentável leveza do ser- filme para ampliar visões sobre sexualidade e relações de gênero

A Insustentável Leveza do Ser (em checo Nesnesitelná lehkost bytí) é um livro publicado em 1984 por Milan Kundera. O romance se passa na cidade de Praga em 1968. Foi adaptado para o cinema pelo diretor Philip Kaufman sob o nome de The Unbearable Lightness of Being.

Sinopse

Nos anos 60 em Praga, Tchecoslováquia, Tomas (Daniel Day-Lewis), um médico totalmente apolítico, tem como hobby ter diversas parceiras sexuais, mas evitando sempre um maior envolvimento. Mas duas mulheres: Sabina (Lena Olin), uma artista plástica, e Tereza (Juliette Binoche), uma garçonete que sonha em ser fotógrafa, vão estar muito presentes na vida dele. Mas ao serem atingidos pelos acontecimentos de 1968, conhecido como "A Primavera de Praga", quando tanques soviéticos invadiram a capital tcheca para pôr fim a uma série de protestos, a vida deste triângulo amoroso afetada, pois seus sonhos foram destruídos e suas vidas mudariam para sempre.





O desenvolvimento dos enredos erótico-amorosos se conjuga com extrema felicidade à descrição de um tempo histórico politicamente opressivo e à reflexão sobre a existência humana como um enigma que resiste à decifração - o que lhe dá um interesse sempre renovado. Quatro personagens protagonizam essa história - Tereza e Tomas, Sabina e Franz. Por força de suas escolhas ou por interferência do acaso, cada um deles experimenta, à sua maneira, o peso insustentável que baliza a vida, esse permanente exercício de reconhecer a opressão e de tentar amenizá-la.
A Drama coloca em questão a filosofia pré-socrática de Parmênedes que dissertava sobre a relação peso/leveza. Segundo o filósofo, a problemática estava na dualidade do Ser, onde afirmava que esta dualidade surge da presença e da ausência de entidades. Por exemplo, o frio é apenas a ausência de calor, as trevas são a ausência de luz, então, embora estejamos acostumados com o novo pensamento lógico da vida, para este filósofo a relação leveza/peso afirma o peso como ausência, como não não-leveza.

Trailller


A partir desta teoria (530 a.C – 460 a.C),  constrói-se  Tomas, um personagem que se recusa a carregar o peso da vida, vivendo sem nenhum compromisso com quaisquer problemas sejam de ordem política, nas relações amorosas, enfim, o personagem escolhe ser “leve”, ou seja, livre. O enredo também nos leva aos poucos à meditação Nietzscheana, quando pondera sobre o Eterno Retorno, teoria que prevê o angustiante vazio para quem assume levar uma vida linear, longe de buscas e aventuras.
Segundo Nietzsche a vida é um eterno retorno, porque precisamos, temos a obrigação de errar e voltar a errar quantas vezes for necessário desde que não cometamos o primário erro humano de levarmos uma vida dentro de um ciclo de mesmices. Esta teoria de Nietzsche nos convence, em suma, a levarmos uma vida de liberdade, uma vida que valha a pena ser vivida.
O autor trata ainda, da questão da Compaixão. Através da história, vemos que Compaixão nada mais é que um terrível sentimento de superioridade de um indivíduo sobre o outro que sofre. E na incapacidade egoísta deste indivíduo superior de sentir a dor do outro, faz com que o outro sofra duas vezes sua dor. Esta metáfora  é utilizada para construir a relação de Tomas com Teresa, porque Teresa é uma moça simples, do Interior, enquanto Tomas é um rapaz rico, médico renomado e muito bonito. Mas ainda existe Sabina, mulher com quem Tomas mantém uma realação amorosa de liberdade longe dos padrões pré-estabelecidos.
A sexualidade/sensualidade é um elemento importante no filme, e não à toa: a busca da beleza verdadeira, livre, pode estar, dentre muitos outros caminhos, aí.
O fechamento da obra é permeado pelo "incompleto". Tão somente a leveza paira sobre as personagens, Sabina pinta nuvens escuras que anunciam o "peso" de uma tempestade.
O filme termina como todas as possibilidades da vida: nunca se sabe o que poderia ter sido. É o "se", a conjectura, naturalmente inútil ao se tratar de escolhas já feitas, de caminhos já percorridos.

Quero dividir com vocês alguns trechos do livro e algumas partes que me marcaram. E se vocês se sentirem tocados como eu,  leiam a história completa, para que possam tiram também suas conclusões:
-        Transar com uma pessoa e dormir com ela, são coisas muito diferentes. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de pessoas), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só pessoa). Algumas pessoas com quem dormimos nos permitem viver isso. Dormir com alguém ao lado pode ser uma experiência muito mais profunda do que sexo em si. Mas não é uma experiência que se pode ter com qualquer um.
-        O que faz nos apaixonarmos por uma pessoa, e não por outra, visto que há diversas pessoas que admiramos ao longo da vida? Segundo Kundera, podemos encontrar pessoas das quais gostamos, apreciamos o caráter, inteligência, que estamos prontos para ajudar quando preciso. Mas existe no cérebro uma zona específica, que poderíamos chamar de “memória poética” que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza a nossa vida. Assim que alguém ocupa essa nossa memória poética, varremos todos os traços de outras pessoas. Só existe lugar para uma pessoa por vez.

- O drama de uma vida pode ser explicado pela metáfora do peso. Dizemos que temos um fardo sobre os ombros. Algumas pessoas aceitam carregá-lo, outras não. Essa é a verdadeira insustentável leveza do ser.
- É impossível sermos verdadeiros vivendo em público. Só conseguiríamos viver dentro da verdade, se estivéssemos sozinhos. Se há qualquer pessoa junto, nos adaptamos de um jeito ou de outro aos olhos dos que nos observam.
- Há pessoas que vivem de uma forma leve, outras que não suportam esse modo de vida. Um não é melhor que o outro, já que os dois podem trazer sofrimento.
- Somos forçados a nos portarmos de uma certa forma para sermos aceitos na sociedade. Em tudo, com a família, amigos, nos relacionamentos. Como falou Kundera, “nunca poderemos saber com certeza total em que medida nosso relacionamento com o outro é o resultado de nossos sentimentos, de nosso amor, de nosso não-amor, de nosso ódio. [...] A verdadeira bondade do homem só pode se manifestar com toda pureza, em relação aqueles que não representam nenhuma força. O verdadeiro teste moral da humanidade (o mais radical, num nível tão profundo que escapa a nosso olhar), são as relações com aqueles que estão a nossa mercê: os animais.”
LER LIVRO AQUI

Referências:

Filme: A Insustentável leveza do Ser

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Grata por sua contribuição.