terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Dia Mundial de Luta contra a Aids marca campanha nacional pelo fim da violência contra as mulheres

Renomadas instituições brasileiras de pesquisa em saúde defendem: as estratégias de prevenção à aids devem ser focadas na conscientização coletiva das mulheres e não apenas nos chamados “comportamentos individuais”. Esta é a conclusão, por exemplo, de importante estudo realizado, este ano, por pesquisadores da Coordenação Estadual de DST/Aids  da Secretaria de Estado da Saúde (SP), da Universidade de Campinas (Unicamp), da Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz do Ministério da Saúde, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade de Franca (SP).
A pesquisa demonstrou a chamada “feminização da aids” – isto é, o crescimento da doença entre o sexo feminino – como também comprovou o relatório “Situação da Epidemia de Aids 2009”, produzido pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com os dados nacionais do estudo, apesar da tendência à estabilidade (as infecções pelo HIV reduziram 17% nos últimos oito anos), a epidemia de aids afeta de maneira diferenciada as mulheres, os heterossexuais e a população de menor renda e nível educacional.
Em média, segundo o relatório da Unaids/OMS, cerca de 30 mil novos casos da doença são identificados a cada ano no Brasil, com números crescentes entre mulheres e pessoas com mais de 50 anos; ou seja, a taxa de incidência de aids vem decrescendo na população masculina e aumentando no universo feminino.
No caso da razão de sexo em jovens na faixa etária de 13 a 19 anos, a pesquisa revelou que o número de casos de aids ainda é maior entre as brasileiras jovens. Desde 1998, são registrados, no país, oito casos em meninos para cada 10 casos da doença em meninas.
No Brasil, de 1980 até junho de 2009, foram identificados 356.427 (65,4%) casos de aids no sexo masculino e 188.396 (34,6%) no sexo feminino. A razão de sexo (número de casos em homens dividido pelo número de casos em mulheres) diminuiu consideravelmente do início da epidemia para os dias atuais: em 1986, a razão era de 15 casos de aids em homens para um caso em mulheres. A partir de 2002, a razão de sexo estabilizou-se em 15 casos em homens para cada 10 em mulheres.
Diagnósticos como esses preocupam não só os especialistas, mas também a sociedade civil, os movimentos sociais e as organizações de mulheres. “As desigualdades de gênero – em termos culturais, políticos e sócio-econômicos – estão diretamente ligadas ao comprovado aumento do número de mulheres soropositivas”, afirma Marlene Libardoni, diretora-executiva da ONG Agende Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento – AGENDE, que coordena nacionalmente a Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contras Mulheres
As questões culturais relacionadas à resistência quanto ao uso da camisinha ainda incrementam as vulnerabilidades das adolescentes, jovens, adultas e idosas às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e ao HIV. É o que revelou a “Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas Relacionadas às DSTs e Aids da População Brasileira de 15 a 64 Anos de Idade”, realizada, ano passado, pelo Ministério da Saúde com o apoio do Centro de Informação Científica e Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz.
Esse é o maior estudo já promovido sobre o comportamento sexual do brasileiro, fornecendo subsídios para o desenvolvimento e a avaliação da Política Nacional de DST/Aids. A pesquisa foi realizada entre setembro e novembro de 2008, por pesquisadores do Ibope, que entrevistaram oito mil homens e mulheres entre 15 e 64 anos de idade das cinco regiões do país.
O estudo mostrou que, em mulheres, o predomínio da forma de transmissão é heterossexual em toda a série histórica. Em 1997, era responsável por 88,7% dos casos. Em 2007, esse percentual alcançou 96,9%. A pesquisa também revelou que menos da metade da população brasileira (45,7%) usa preservativo com parceiros casuais.

“Mas, ainda é grande a dificuldade de as mulheres negociarem com os parceiros o uso do preservativo, tanto nas relações fixas quanto nas eventuais”, analisa Marlene Libardoni. “Cenários como esses – que mostram claramente a feminização da aids e a vulnerabilidade das mulheres em relação à doença – ratificam a necessidade de se direcionar as campanhas e políticas públicas para o enfrentamento das diferenças relacionadas à incidência da doença e de se desenvolver ações integradas entre os diversos setores da sociedade e do governo, tendo como prioridade a promoção da igualdade de gênero”, completa.

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