terça-feira, 31 de julho de 2012

Lei Maria da Penha: seis anos de existência e muitas ameaças de retrocesso




Após seis anos de existência, a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) continua inegavelmente na boca do povo e atualmente representa um dos mais importantes instrumentos de defesa dos direitos das mulheres e do enfrentamento à violência doméstica e familiar no Brasil.
 
Embora a aplicação e a implementação da Lei Maria da Penha ainda não sejam plenamente satisfatórias, tendo em vista que sua eficácia depende de diversos fatores, como a garantia de orçamento e a aplicação de recursos  para instrumentos que garantam a vida e os direitos da mulheres em situação de violência doméstica, essa legislação é um avanço inegável. Um dos desafios ainda apontados para a plena eficácia da Lei é a sua inclusão no ciclo orçamentário, por exemplo.
A fim de garantir a sua completa implementação nos âmbitos do Executivo, Legislativo e Judiciário, varias ações de apoio e acompanhamento têm sido desenvolvidas por ONGs, associações, conselhos e diversos movimentos sociais. É com atenção que monitoramos de forma especial as diversas proposições legislativas que visam alterar a Lei Maria da Penha.

Ao todo, 29 Proposições Legislativas tramitam hoje no Congresso Nacional. Embora persista em alguns parlamentares a ideia de que é preciso melhorar a lei, acreditamos que não basta lutar para mudar a legislação. Fundamental e necessário é desmistificá-la e garantir os mecanismos para sua eficácia e aplicação.
Infelizmente, em algumas das propostas apresentadas podemos perceber o grau de desconhecimento sobre o texto da Lei Maria da Penha, como mostra o quadro abaixo. Algumas das propostas, por exemplo, buscam ampliar o entendimento de violência doméstica, para enfraquecer as iniciativas de combate à violência contra a mulher.
A exemplo de projetos prejudiciais à Lei Maria da Penha, podemos observar o PL  5685/2009, de autoria do Senador Gonzaga Patriota (PSB/PE), que sugere criar o Estatuto de Saúde e Segurança Doméstica e Familiar do Homem. Ora, a LMP cria “mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do Artigo 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher”.
Dessa forma, é reconhecida a cultura patriarcal e o machismo aos quais as mulheres sempre estiveram submetidas. Os poucos homens vítimas de violência doméstica sempre tiveram a Lei 9.099/95, no Código Penal (*), como mecanismo de proteção a sua disposição.
Outra proposta, que merece especial atenção, prevê mudanças diretas no Código Penal, sugerindo o aumento de pena ao agressor. São os Projetos de Lei 344/2007 e 7.118/2010. No nosso entendimento, a iniciativa se afasta do espírito da Lei Maria da Penha, pois não seriam penas mais altas que garantiriam a redução dos crimes de violência doméstica.
Outras propostas são simplesmente desnecessárias, pois não oferecem nada de novo e substancial, que já não tenha sido previsto na Lei Maria da Penha. Um exemplo é o PL 11.340/2006, do deputado Marcos Montes (DEM/MG), que prevê um auxílio financeiro às mulheres vítimas de violência. Apesar de parecer interessante, o projeto é redundante pois o apoio econômico já está previsto no artigo 9 da atual legislação, ao garantir a inclusão prioritária dessas mulheres nos programas sociais do Governo.
Por isso, é preciso continuar o avanço na implementação da Lei Maria da Penha e seguir com o importantíssimo trabalho articulado com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Sempre de forma dialogada com os movimentos feminista e de mulheres, a fim de que eles possam expressar as reais necessidades cotidianas do enfrentamento a todas as formas de violência contra as mulheres.

(*) O Código Penal em vigor foi instituído em 1940, pelo Decreto-Lei 2.848/40. Desde então, o País ganhou mais de uma centena de leis penais especiais para tratar de novos delitos.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

ONU Mulheres recebe denúncias de injustiças e violações dos direitos humanos das mulheres em todo o mundo


Por Universidade livre Feminista Do site Onu Mulheres

Brasília, 26 de julho de 2012 — A Comissão sobre o Status das Mulheres (CSW para a sigla em inglês) convida indivíduos, organizações, grupos e redes a enviar observações por escrito – incluindo reclamações, recursos e petições – sobre supostas injustiças e violações dos direitos humanos das mulheres em todo o mundo. O prazo vai até a próxima quarta-feira, dia 01 de agosto de 2012.
O processo de comunicação tem como objetivo identificar as tendências emergentes na injustiça e práticas discriminatórias contra as mulheres, a fim de formular políticas públicas específicas.
A ONU Mulheres, através da sua seção de Direitos Humanos, vai receber e compilar as informações pertinentes e as respostas dos governos em um relatório confidencial que será apresentado para análise da Comissão do Status da Mulher, durante sua sessão anual (CSW57). Uma equipe de trabalho da Comissão, composta por representantes das cinco regiões, vai identificar tendências e padrões de injustiça e de práticas discriminatórias contra as mulheres. A próxima sessão anual da CSW57 acontecerá em março de 2013 em Nova Iorque.
Para mais informações sobre a apresentação de reclamações, tipos de reclamações recebidos anteriormente, processo de comunicação ou informações de contatos, visite o site:http://www.un.org/womenwatch/daw/csw/communications_procedure.html.
Seguem alguns exemplos de tipos de comunicações e de tendências e padrões identificados nos últimos anos:
• Prisões arbitrárias de mulheres;
• Assassinato e tortura de mulheres sob custódia;
• Desaparecimentos ou raptos de mulheres;
• Aplicação discriminatória das sanções contidas na legislação com base no gênero, incluindo castigo corporal e capital;
• Violação dos direitos à liberdade de expressão e de reunião dos defensores dos direitos humanos das mulheres;
• Ameaças ou pressão exercida contra as mulheres para que elas não denunciem violações ou para que retirem queixas;
• Impunidade para violações dos direitos humanos das mulheres;
• Atitudes estereotipadas em direção ao papel e às responsabilidades das mulheres;
• Violência doméstica;
• Casamentos forçados e estupro marital;
• Provas de virgindade;
• Formas contemporâneas de escravidão, incluindo o tráfico de mulheres e meninas;
• Assédio sexual a mulheres no local de trabalho;
• Práticas de emprego com base no gênero, incluindo salário desigual;
• Falta de diligência por parte dos Estados em investigar, processar e punir adequadamente aqueles que cometem atos de violência contra as mulheres;
• Discriminação contra as mulheres em matéria de imigração e nacionalidade;
• Violações dos direitos das mulheres a possuir e herdar bens;
• Discriminação contra as mulheres no acesso à ajuda humanitária internacional;
• Expulsão forçada de mulheres em situações de conflito.

fonte: INESC

domingo, 29 de julho de 2012

Encontros Feministas na Universidade de Brasília

I SIMPÓSIO GEFEM- Grupo de Estudos Feministas da UnB
encontros feministas2012

             ENCONTROS FEMINISTAS

Mesas redondas: interdisciplinares / interinstitucionais
Início provável: 1ª quinzena de setembro

Local: a divulgar para inscritas/os

Os feminismos investigam = setembro ( 1ª quinzena)
Profa. Dra. Claudia Maia - UMontes Claros- mulheres malditas? as solteironas



Profa. Dra. Valeska Zanello UnB- Feminismos vêem a Saúde mental


Profa. Dra. Susane Oliveira –UnB-Feminismos: políticas educacionais. Educação inclusiva e não-sexista (2004-2007).


Os feminismos exploram – setembro ( 2ª quinzena)

Profa. Dra Tania Navarro Swain - (UnB) Labrys, estudos feministas- Obstáculos aos feminismos : os dispositivos

Profa. Dra Norma Telles - UCSP) Caleidoscópio de letras: escritoras, artistas, cientistas

Profa. Dra Valéria Fernandes – Colégio Militar, DF- Feminismos em quadrinhos, representações sociais


Os feminismos vão ao cinema- outubro ( 1ª quinzena)

Profa. Dra. Tania Montoro -UnB– Os femininos em cineastas feministas

Doutoranda -Maria Célia Orlato Selem –Unicamp- Políticas feministas em filmes de mulheres latino-americanas.

Profa. Dra. Liliane Machado -UnB- Feminismos observam a mídia



Os feminismos fazem história- outubro 2ª quinzena)


Profa. Dra. Margareth Rago Unicamp - Foucault, Feminismos e Subjetividade( outubro ou novembro)
Profa. Dra. Cristina Teixeira Stevens – UnB- Olhar feminista: metaficição historiográfica contemporânea

Profa. Dra. Diva do Couto Gontijo Muniz-UnB- Mulheres, história e cidadania



Os feminismos avaliam – (novembro – 1ª quinzena)

Profa. Dra. Ana Liési Thuler - Pesquisadora. Feminismos e produção de conhecimento: disrupturas e insurgências latino-americanas"

Profa. Dra. Claudia Brochado- UnB - Feminismos na Literatura: Escritoras da Idade Média na Querelle des Femmes - Isabel de Villena (Valencia, séc. XV)

Profa. Dra. Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro - UFU / Uberlândia/MG -  Sedução, crime e impunidade: desconstruções do/no feminino (Minas Gerais,1940-1980).

novembro – 2ª quinzena):

palestra ou filme


para se inscrever ou ter maiores informações, escreva para  anahita@terra.com.br

Fonte: Universidade Livre Feminista

sábado, 28 de julho de 2012

Jovens negras têm menos acesso a escola e a trabalho, mostra relatório da OIT

Por Carolina Sarres, da Agência Brasil

Uma em cada quatro jovens negras brasileiras entre 15 e 24 anos não estuda ou não trabalha – o que corresponde a 25,3% dessa faixa da população. Os dados são da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgados hoje (19) no relatório Perfil do Trabalho Decente no Brasil: um Olhar sobre as Unidades da Federação. Entre a população jovem em geral, o percentual das pessoas que não trabalha ou não estuda chega a 18,4%, o que corresponde a 6,2 milhões de pessoas. Entre as mulheres jovens, a taxa é 23,1%. Esse fato é identificado com mais intensidade nas áreas urbanas, em que 19,7% dos jovens estão nessa situação, contra 7,9% nas áreas rurais.
“Quando a jovem diz que não trabalha, quer dizer que não trabalha remuneradamente. Ou ela é mãe e não tem apoio das redes de proteção social; ou concilia família e trabalho; ou cuida de irmãos melhores para a mãe trabalhar”, destacou o coordenador do estudo da OIT, José Ribeiro.


A taxa de mulheres negras negras que não trabalham ou não estudam é superior às das mulheres jovens em geral (23,1%), dos homens jovens (13,9%) e dos homens negros (18,8%).
“O afastamento das jovens da escola e do mercado de trabalho, em um percentual bastante superior ao dos homens, é fortemente condicionado pela magnitude da dedicação delas aos afazeres domésticos e às responsabilidades relacionadas à maternidade, sobretudo quando a gestação ocorre durante a adolescência”, ressalta o relatório.


Os estados em que há mais desemprego entre as jovens negras são Pernambuco (36,7%), o Rio Grande do Norte (36,0%), Alagoas (34,9%), o Pará (33,7%) e Roraima (33,2%).

“As cifras de redução da pobreza e de desigualdade no Brasil, nos últimos anos, são avanços importantes e internacionalmente reconhecidos pela OIT. A pobreza e a desigualdade continuaram diminuindo no Brasil apesar da crise. O Brasil nesse sentido se destaca no cenário internacional. [Mas] a questão do jovem é claramente um desafio”, disse a diretora da OIT no Brasil, Laís Abramo.
Acesse em pdf: Jovens negras têm menos acesso a escola e a trabalho, mostra relatório da OIT 

(Agência Brasil - 19/07/2012)


Leia também:
mulhercorrendo130
A OIT informou que os homens trabalham, em média, 43,4 horas por semana no mercado de trabalho e outras 9,5 horas em casa, perfazendo uma jornada semanal de 52,9 horas. Ao mesmo tempo, as mulheres têm uma jornada total de 58 horas semanais, sendo 36 horas no mercado formal de trabalho e 22 horas em casa, o que equivale a 20 horas adicionais por mês, cerca de dez dias a mais por ano
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Apesar dos dados do relatório divulgado pela OIT indicar que houve avanços na formalização dos trabalhadores do país - – que chegou a 53,6% entre 2003 e 2010 -, o acesso à proteção social, a benefícios e à Previdência não atingiu os trabalhadores domésticos – ocupação que inclui empregadas, diaristas, jardineiros, motoristas, entre outras funções

Violência contra as mulheres: como solucionar?

TATIANA ROSA NOGUEIRA DIAS 
Doutora em linguística pela UnB
Publicação no jornal  Correio BrazilienseMuitos especialistas afirmam que aumentou o número de denúncias referentes à violência contra as mulheres e ainda há discussões que buscam elucidar se tal fenômeno ocorre por maior divulgação, ou se realmente tem aumentado a incidência desse tipo de crime. Quando buscamos na história, percebemos que, realmente, a mulher sempre ocupou posição considerada inferior, tendo destaque na sociedade somente em ambientes domésticos. Com os questionamentos provocados pelos movimentos feministas das décadas de 1960 e 1970, percebemos que houve grandes mudanças, inclusive no mercado de trabalho. Mas tal reconhecimento, por parte da sociedade, parece não ter amenizado o preconceito e as cobranças feitas às mulheres, inclusive delas próprias.
Em estudo realizado em 2011, analisando as audiências feitas no Juizado de Violência Doméstica e Familiar do Distrito Federal, constatei que as autoridades que lidam com esse crime e as próprias pessoas que os sofrem percebem as mulheres vítimas como dependentes da figura masculina. O que de fato não podemos deixar de constatar. Mas o fator de tal violência seria somente isso? 

 
As origens, segundo a antropologia e a sociologia, referem-se ao Estado patriarcalista em que estamos inseridos. Há também a visão da psicologia, indicando um ciclo de violência, existindo três fases: a fase da construção da tensão, em que há violências consideradas leves, como ameaças, injúrias; a de tensão máxima, com violências mais graves, podendo chegar ao homicídio; e a fase lua de mel, em que o agressor se arrepende e faz o possível para agradar a vítima, indicando mudança de comportamento. Os homens e as mulheres não conseguem se desvencilhar desse ciclo sem uma intervenção terapêutica. Pensando nesse fato, a Lei Maria da Penha surge com a possibilidade de atuação multidisciplinar que promove a referida intervenção.
A principal questão que todas as mulheres gostariam de elucidar é como evitar tal violência e como não permitir que aconteça em seus lares. Acredito que, muito além de intervenções terapêuticas e de auxílios, a conscientização das mulheres com relação a qualquer ato considerado normal envolvendo falta de respeito e o início das violências psicológicas deve ser estimulada. O início das violências leves deve ser extirpado para que não evolua para os homicídios.

Muitos casos chocam a sociedade, como o de Eloá, que perdeu a vida simplesmente por terminar um relacionamento. Outros casos de violência também poderiam ser evitados se fosse dada atenção às vítimas ou a seus algozes quando iniciadas as violências leves, consideradas ainda por uma grande maioria como naturais, já que a pessoa estava com a Ccabeça cheia e não pensou na hora de falar.

 
Outro questionamento é o de como melhorar em todas as cidades o atendimento especializado, já que a lei possibilita a criação de delegacias e juizados, mas constatamos que na grande maioria dos estados brasileiros não há esse atendimento específico, o que dificulta a erradicação da violência contra mulheres.

Ainda hoje escutamos piadinhas que divulgam e propagam a posição da mulher como sendo inferior, tanto em seus lares quanto na sociedade. Essas atitudes contribuem para continuarmos tendo o pensamento de que o outro é um objeto e como tal deve ser comprado, ou não poder ser partilhado. Pensamentos de posse e de materialização de seres humanos possibilitam a violência.

Dessa maneira, percebemos que ainda está longe a erradicação da violência contra as mulheres, mas muitos avanços e pesquisas estão sendo desenvolvidos buscando elucidar as principais questões. Como propostas para melhor atendimento às mulheres estão a capacitação dos profissionais e a existência de outras formas de apoio, como parcerias com secretarias de desenvolvimento social em todos os estados, devendo haver um engajamento político que possibilite que atos que promovam mudanças culturais sejam desenvolvidos em todos os estados brasileiros e não somente nos que se interessar, pois, se não houver uma alteração que atinja todos os municípios, será difícil propor uma mudança social.
Fonte; Universidade Livre Feminista

terça-feira, 17 de julho de 2012

Gravidez Interrompida

Revista Nordeste Vinte e Um publicou em
4/7/2012
Nenhuma mulher deseja, mas uma em cada cinco brasileiras já fez. Algumas sob as condições mínimas de higiene oferecidas pelas clínicas clandestinas, mas que cobram preços exorbitantes. A maioria, do jeito que deu: preparos herbais ou introdução de materiais cortantes na vagina, saltos de escadas ou telhados, uso de chás ou remédios de procedência e indicação duvidosas são os meios dos quais se valem as mulheres pobres que decidem fazer aborto.

Segundo a nova edição da Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento, publicada pelo Ministério da Saúde, em 2011, estima-se que mais de um milhão de abortos inseguros são realizados, por ano, no Brasil. Laís (nome fictício), empregada doméstica, é uma delas. “Foi uma infelicidade da vida”, comenta, enquanto explica como engravidou, mesmo usando preservativo, de um namorado que teve no curto tempo em que passou separada do marido.


“Quando eu soube que tava grávida, tava pra voltar com o meu marido. Ele não ia me querer com uma barriga de outro, meus pais iam me botar pra fora. Só minha irmã que soube”, conta. Ela tentou se desfazer da gravidez com um chá indicado por uma curandeira, mas não deu resultado. “Depois eu fui, com minha irmã, num lugar que tira criança a ferro. A ferro! É horrível”, lembra. 

A “operação” ilegal custou 500 reais. Para conseguir o dinheiro, Laís precisou trabalhar diariamente, por duas semanas, inclusive aos sábados e domingos. A intervenção resultou em uma infecção, seguida de uma internação com uma longa espera no atendimento e o descaso do médico, quando soube que o problema decorria de um abortamento. Mas a sequela mais dolorosa é o sentimento de culpa que carrega até hoje.


“Eu nem gosto de lembrar, me dá uma tristeza”, fala com o olhar no vazio e os lábios espremidos, para em seguida voltar ao relato agitado, como quem acorda de um pesadelo: “Não dava pra ser diferente, eu não ia conseguir ter a criança e depois dar. Como é que ia ser: grávida, sem marido, sem ter onde ficar? Emprego pra grávida também é mais difícil,” conclui.


Um entre tantos indesejados

O caso de Laís não é isolado. Contraceptivos estão sujeitos a falhas e isso não é novidade. Acredita-se que ocorram, no mundo, 26 milhões de gestações indesejadas por falha destes métodos. Mas a dificuldade de acesso, a escandalosa falta de conhecimento sobre a existência deles ou como usá-los, dão corpo ao imenso contingente de mulheres brasileiras que engravidam sem planejamento.


“Dizer que as pessoas têm acesso à informação não é verdade. Tem informação onde?”, questiona Rosângela Talib, membro da equipe de coordenação, no Brasil, da Rede Católica pelo Direito de Decidir. Rosângela, que também dá oficinas sobre o tema, tem circulado o País e relata uma inimaginável peregrinação pelo caminho do absurdo e da desinformação.

“Uma mulher recebeu anticonceptivo no posto, tomou, engordou e então deu aos filhos, porque achou que era uma ótima vitamina. Um casal de jovens namorados, iniciando a vida sexual, foi ao posto de saúde, recebeu o anticonceptivo oral, (popularmente conhecido como pílula), mas ela tomava um e o namorado tomava outro. As pessoas não conhecem o seu corpo, não sabem qual é a ação do anticonceptivo, elas não têm informação e a gente vê isso na prática”, diz Rosângela.

Ilegal, inseguro e abundante


O aborto clandestino afeta as mulheres de forma desigual. Situação econômica, localização geográfica, grau de escolaridade, raça e idade são variações que podem agravar as condições da forma como vem sendo feito. Além disso, a estrutura do sistema de saúde das diferentes regiões também gera diferenças nos índices de abortamentos e de mortalidade em decorrência da prática realizada na clandestinidade. O Dossiê do Aborto, lançado pela Ong Ipas – Brasil, em 2011, aponta que os números são maiores nas regiões Norte e Nordeste.

Segundo o estudo, o impacto da criminalização do aborto aflige principalmente as mulheres mais vulneráveis, que vivem nas regiões mais pobres do País. Os Estados das regiões Sudeste (exceto o Rio de Janeiro), Sul e Centro-Oeste (exceto o Distrito Federal) apresentam taxas inferiores a 20,4 abortamentos para cada grupo de 1000 mulheres de 10 a 49 anos. Nos Estados do Norte (menos Rondônia) e Nordeste (exceto Paraíba e Rio Grande do Norte) essas taxas são maiores que 21,1 abortamentos para cada grupo de 1000 mulheres de 10 a 49 anos e chegam a mais de 40 abortamentos por 1000 mulheres de 10 a 49 anos, no Acre e Amapá.

De acordo com a Norma Técnica do Ministério da Saúde, os abortamentos inseguros, no Brasil, resultam exatamente “das necessidades não satisfeitas de planejamento reprodutivo, envolvendo a falta de informação sobre anticoncepção, dificuldades de acesso aos métodos, falhas no seu uso, manuseio irregular ou inadequado, e ausência de acompanhamento pelos serviços de saúde”. Entre outras causas também aparecem: a questão financeira, o abandono do parceiro e a questão do momento, ou seja, quando elas não se sentem preparadas para a maternidade.

É exatamente a clandestinidade que leva o aborto a ser considerado um problema de saúde pública. Sem dinheiro ou assistência do Estado, mulheres buscam meios escusos para interromper a gravidez. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) o abortamento considerado ilegal, o clandestino, deve ser chamado de aborto inseguro. Pois é praticado sem condições sanitárias, em ambientes inadequados, ou em mãos não habilitadas para sua realização. No mundo, representam 13% das mortes maternas.

“Na América Latina esse número chega a 24% das mortes maternas e no Brasil é a 4ª ou 5ª causa de morte de gestantes. Hemorragias, infecção, lesões de órgãos internos, lacerações genitais, queimaduras e intoxicações graves ocorridos, podem levar à morte. Histerectomias, obstruções tubárias e esterilidade pós-abortos clandestinos são frequentes”, relata o médico Cristião Fernando Rosas, coordenador para os países do Cone Sul do Comitê de Direitos Sexuais e Reprodutivos da Federação Latino-americana de Sociedades de Obstetrícia e Ginecologia (Flasog).

Quem são essas mulheres?

Embora seja difícil chegar a estatísticas oficiais, o Ministério da Saúde afirma que o aborto é a 5a causa da mortalidade materna, mas esse dado é baseado apenas nas complicações decorrentes do aborto inseguro que chegam ao Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, sabe-se que somente metade das brasileiras que fizeram aborto na ilegalidade buscou o sistema público diante de complicações. Esse dado foi relatado pela Pesquisa Nacional do Aborto (PNA), publicada em 2010.

Conduzido pela Universidade de Brasília e pelo instituto de pesquisa Anis, o estudo faz uma estimativa do perfil e da quantidade de mulheres que já interromperam a gravidez de forma insegura, ao longo da vida. O resultado é um painel de mulheres católicas, casadas ou em união estável, usuárias de métodos contraceptivos, mães de pelo menos um filho. A pesquisa ainda nega a ideia de que o aborto seja feito apenas por adolescentes inconsequentes ou mulheres mais velhas e sem condição de levar a gravidez a termo.

Cerca de 60% fizeram o último, ou único aborto, no centro do período reprodutivo: entre 18 e 29 anos. “É muito importante analisar esse perfil, pois há um estigma das mulheres que interrompem a gravidez, uma ideia que diz que elas são inconsequentes, que se o aborto for descriminalizado, vai se tornar um método anticoncepcional. E não é verdade, as mulheres que abortam são como outras quaisquer, como tantas que conhecemos”, avalia a médica Maíra Fernandes, que também é presidente da Comissão de Bioética e Biodireito da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Rio de Janeiro.
Para ler a matéria completa, acesse o link Gravidez Interrompida.

CCR | Comissão de Cidadania e Reprodução

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Uso de anticoncepcionais evita 272 mil mortes maternas no mundo

O Globo publicou em
13/7/2012
O uso de anticoncepcionais impede mais de 272 mil mortes maternas de parto a cada ano, segundo um novo estudo conduzido por pesquisadores da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg. Isto significaria 30% de redução dos óbitos. As descobertas foram publicadas pelo The Lancet como parte de uma série de artigos sobre planejamento familiar.

— Promoção do uso de contraceptivos é uma estratégia de prevenção primária eficaz para redução da mortalidade materna nos países em desenvolvimento. Nossos achados reforçam a necessidade de acelerar o acesso à contracepção nos países com baixa prevalência do uso de contraceptivos, onde os ganhos de prevenção da mortalidade materna poderiam ser maiores — disse o autor do estudo, Saifuddin Ahmed, professor adjunto nos departamentos de População; Família e Saúde Reprodutiva; e Bioestatística da Johns Hopkins. — A vacinação previne a mortalidade infantil enquanto que a contracepção impede a mortalidade materna.
Leia reportagem completa link abaixo

CCR | Comissão de Cidadania e Reprodução

domingo, 15 de julho de 2012

Cúpula sobre Planejamento Familiar • CCR • Comissão de Cidadania e Reprodução

A meta 5b dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) estabelece o seguinte: “Universalizar os serviços de saúde reprodutiva até 2015”. Evidentemente, para se atingir esta meta é preciso colocar ênfase no direito das mulheres. Mas, nas questões de reprodução, seria um equívoco deixar os homens de da discussão do tema e do processo de regulação da fecundidade e do livre exercício da sexualidade.

Por exemplo, a vasectomia (voluntária evidentemente) e a camisinha masculina são métodos contraceptivos (e de proteção contra doenças sexualmente transmissíveis neste último caso) masculinos e que requerem um trabalho de informação e de inclusão dos homens nos serviços de saúde reprodutiva.
Leia materia completa no link abaixo:
Cúpula sobre Planejamento Familiar • CCR • Comissão de Cidadania e Reprodução

sábado, 14 de julho de 2012

Ninguém comenta a gravidez na adolescência • CCR • Comissão de Cidadania e Reprodução

Rosely Sayão
 De modo geral, não temos nos preocupado muito com a gravidez indesejada entre adolescentes.

De quando em quando, vemos campanhas que alertam sobre a necessidade dos cuidados para evitar a gestação nessa etapa da vida, mas nada realmente consistente ocorre a esse respeito.

As famílias e as escolas, as maiores implicadas com a formação dos jovens, costumam ignorar o tema. É que é mesmo difícil trabalhar com essa questão. Para os pais, porque a conversa com os filhos a respeito da sexualidade e de suas consequências costuma ser ora constrangedora, ora camarada em demasia. Para as escolas, porque a educação sexual no espaço público exige preparo para ser praticada.
Leia materia completa no link abaixo
Ninguém comenta a gravidez na adolescência • CCR • Comissão de Cidadania e Reprodução

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O debate sobre o planejamento familiar

Neste 11 de julho, o mundo comemorou o Dia Mundial de População. Durante os últimos dias, diversos comitês, cúpulas e reuniões aconteceram e discutiram aspectos associados ao planejamento familiar, a como a populaçao tem se organizado no planeta, seus rumos futuros e a sustentabilidade das sociedades contemporâneas. Dentro deste debates ecoou a presença das mulheres no mundo, em particular seus direitos sexuais e reprodutivos, já que qualquer movimento humano no planeta dependerá, em boa medida, das decisões que as mulheres tomarem em torno de seus próprios corpos, seus territórios.


Nos dias 4, 5 e 6 de julho, em Quito (no Equador), ocorreu a reunião do Comitê Especial da Cepal sobre População e Desenvolvimento, que prepara e aquece o processo de Cairo +20. Em 2014 o mundo festejará duas décadas de iniciativas que retiraram as metas demográficas do centro de debate populacional para colocar as mulheres, seus direitos, especialmente os reprodutivos que são reconhecidos hoje como direitos humanos. O evento teve foco principal na juventude. Aliás, a população jovem está sendo pauta de diversas discussões. Hoje, a gravidez e as complicações do parto são as maiores causas de morte entre garotas adolescentes nos países em desenvolvimento. É fato que os direitos humanos dessa juventude precisam ser atendidos com urgência.

Leia Mais AQUI O debate sobre o planejamento familiar • CCR • Comissão de Cidadania e Reprodução