Lucas Hackradt - revista Época
Recebi hoje um artigo do jornal espanhol El País com um título que me chamou muito a atenção: “Por que os brasileiros não reagem frente à corrupção de seus políticos?”. A análise, feita pelo jornalista Juan Arias, foi publicada na quinta-feira da semana passada (7), mas seu conteúdo não perdeu em nada a importância. Apesar de ser uma análise de um europeu, ou seja, de um cidadão de um país politicamente desenvolvido e relativamente estável, o mais importante é que é uma visão que aponta para o fato de que, em todo o mundo – em especial na África e no Oriente Médio, mas também na Ásia e em outras regiões -, os jovens e a sociedade estão se levantando contra seus governantes corruptos ou autoritários enquanto que aqui parece que ninguém se incomoda mais.
Sociólogos se perguntam por quê nesse país, onde a impunidade dos políticos chegou a criar uma verdadeira cultura de que “todos são ladrões” e de que “ninguém vai preso”, não existe o fenômeno, hoje em voga em todo o mundo, do movimento dos indignados.
Será que os jovens, em especial, não têm motivos para exigir um Brasil não apenas mais rico – ou pelo menos menos pobre -, mais desenvolvido e com maior força internacional, como também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual – onde um secretário municipal ganha quase dez vezes mais que um professor e um deputado 100 vezes mais, ou em que um cidadão comum, depois de 30 anos de trabalho, se aposente com R$ 650 (€ 400) e um funcionário público com quase R$ 30.000 (€ 13.000)? |
A pergunta é interessante. Segundo constatou o repórter espanhol, dois importantes ministros do governo Dilma Rousseff já caíram – Antonio Palocci, da Casa-Civil, e Alfredo Nascimento, dos Transportes. Um deles, Palocci, era simplesmente o ministro mais poderoso do governo, mas nem isso parece ter afetado minimamente a sociedade. Curiosamente, aponta Juan Arias, a pessoa que mais se irritou e combateu essas denúncias de corrupção até agora foi apenas a presidente Dilma Rousseff, que mostrou-se intolerante com o menor indício de corrupção. O artigo vai além na crítica aos brasileiros:
As únicas causas que parecem ser capazes de atrair cerca de dois milhões de pessoas às ruas são as dos homossexuais, as dos seguidores das igrejas evangélicas na Marcha para Jesus e as que pedem a legalização da maconha.
Há quem diga que a apatia dos jovens a serem protagonistas de uma renovação ética no país está ligada a uma propaganda muito bem desenhada que os haveria convencido de que hoje o Brasil é invejado por todo o mundo – e o é, só quem em outros aspectos. Outros atribuem ao fato de que os brasileiros são gente pacífica, pouco dados aos protestos, um povo que gosta de viver feliz com o pouco que tem e que trabalha para viver, mas não vive para trabalhar. |
De fato, as análises que o jornalista faz parecem estar certas – apesar de ser um olhar estrangeiro sobre nossa sociedade. Resta então a pergunta que ele próprio põe: por que é que nós simplesmente nos calamos e não reagimos à corrupção mais? Dê sua opinião em nossa enquete.
Fonte: Por que não reagimos mais à corrupção dos políticos?
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