Pense numa doidice: nas meninas, o negócio é retardar um rito de passagem, a menarca, a primeira menstruação; nas jovens, suprimir o ciclo menstrual; e, nas climatéricas, mantê-lo ad infinitum, como signo da eterna juventude! Falo de lucrativos negócios da indústria farmacêutica, nada saudáveis. Iatrogenia, talvez. Sabe-se o lugar da menstruação, desnecessária na maioria dos mamíferos, na procriação humana. Ignora-se por que as mulheres menstruam. A menopausa foi confirmada apenas em elefantas, baleias jorobadas e mulheres! O curto ciclo de vida e a teoria do envelhecimento de Medawar não respondem.
Sem mencionar o desconhecimento dos danos de submeter a hipófise e os ovários a longos períodos de repouso forçado, por ação da "pílula", a Food and Drug Administration dos Estados Unidos comunicou que os efeitos colaterais da pílula antimenstruação são os mesmos da pílula anticoncepcional, cuja decorrência frequentíssima é a trombose venosa profunda (TVP) - coagulação do sangue nas veias em momento ou local inadequados, ocasionando obstrução venosa parcial ou total e inflamação da parede da veia, podendo causar embolias pulmonar e cerebral (AVC). É a inofensiva!
Fui aos meus guardados, incomodada com as matérias louvando as benesses de não menstruar e a inutilidade de menstruar, como a publicidade "Viva sem menstruar" - invocando a "sujeira", a falta de higiene e até o "veneno" do sangue menstrual! -, que "quase" diz que menstruar faz mal, a exemplo do ginecologista Elsimar Coutinho no livro "Menstruação, a Sangria Inútil". Escrevi "As regras e a camisinha" (2003); "As cobaias da terapia de reposição hormonal" e "O estado da arte da terapia de reposição hormonal (TRH)", sobre a menopausa - palavra de origem grega: fim dos períodos menstruais, estágio fisiológico da vida da mulher.
Neles discorro sobre as formas de "regulação social" de processos biológicos naturais das mulheres, como menstruação e menopausa, via "medicalização" - instrumento de poder político de apresentar e traduzir velhos conceitos e mentiras misóginas com novas roupagens. No tópico "Um olhar da sociologia na medicalização do corpo da mulher", destaco que fatos naturais inerentes à menstruação e à menopausa são diagnosticados e tratados como doenças!
Em "As regras e a camisinha", escrevi: "As minhas filhas foram festejadas quando menstruaram a primeira vez. No jantar de uma delas, o Gabriel disse: “Não sei por que a gente tem de jantar fora só porque essa menina ficou ´misturada´. E ainda ganhou flores porque agora vai usar Modess!".
Tive menarca quando Rita Lee não cantava "Mulher é bicho esquisito/ Todo o mês sangra" ("Cor de rosa choque"). Um trecho: "No Maranhão se dizia: “ficar moça”. Estava com 11 anos. Acordei uma tarde suja de sangue. Apavorada, tomei banho. Vovó perguntou por que eu estava “banhando” tão cedo da tarde. Disse que sentia calor... Naquele noite, não brinquei de roda. Sentia um medo que me apertava o peito. Foram horas de sofrimento solitário...
Voltei para o internato com peças novas em meu enxoval, as toalhinhas da menstruação, embora levasse também seis caixas de “Miss” - uma marca de absorvente da época. Vovó e mamãe brigaram. Vovó mandou fazer as toalhinhas e mamãe dizia que era para levar o “Miss”. Como não se entenderam, coloquei os dois na mala. Nunca usei as toalhinhas, porém guardei-as durante anos. Se perderam no tempo. Eram uma dúzia, arrematadas em “ponto Paris”. Verdadeiras joias!".
Publicado no Jornal O TEMPO em 05.07.2011
fonte: CCR - www.ccr.org.br
Fonte Entre "Miss" e toalhinhas arrematadas em "ponto Paris"
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