Qui, 24 de Setembro de 2009 05:00 Marco Antonio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ao participar hoje (23) de audiência pública na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência Urbana da Câmara dos Deputados, o diretor de pesquisas do Instituto Sangari, Julio Jacobo Waiselfisz, afirmou que as altas taxas de violência e homicídios registradas entre os jovens de 15 a 24 anos exige maior investimento do Poder Público em políticas preventivas.
“Os jovens que mais morrem têm baixa escolarização, são negros e pardos. Esses devem ser o foco das políticas públicas. Temos que ter uma estrutura de prevenção. Faz falta reprimir bem, mas só repressão não basta É por aí o caminho [para a redução dos índices]”, disse Jacobo, autor do Mapa da Violência nos Municípios - estudo que analisa a mortalidade causada por homicídios, com foco especial nos crimes contra jovens, por acidentes de transporte e por armas de fogo.
O pesquisador ressaltou que a prevenção eficiente deve priorizar a escola como mecanismo de inclusão social, com o fortalecimento do ensino médio e não o do trabalho.
“O ensino médio foi abandonado praticamente às traças. Poucos chegam a ele e muitos abandonam. O Brasil conseguiu em poucos anos praticamente universalizar o ensino fundamental. Por que não lançamos um campanha para universalizar o ensino médio? Hoje não temos esse jovem dentro da escola”, argumentou Jacobo.
“Jovem de 15 anos não tem que estar empregado. Tem que estar se preparando, se não tende a ter sempre ocupações marginais. Hoje a mínima condição que se exige em um trabalho medianamente decente é o segundo grau [ensino médio, completo]”, acrescentou.
De acordo com dados apresentados pelo pesquisador, dos cerca 35 milhões de jovens brasileiros, 7 milhões não estudam nem trabalham. Quase 50% da população carcerária é composta por jovens e nos estados violentos mais de 50% dos homicídios são contra pessoas dessa faixa etária.
“Os jovens são os personagens que matam e morrem. São ao mesmo tempo vítimas e algozes”, resumiu Jacobo.
O diagnóstico traçado pelo pesquisador foi aprovado pelo deputado Raul Jungmann (PPS -PE), primeiro vice-presidente da CPI. O parlamentar lembrou que a violência urbana demanda ações coordenadas de diversas esferas do Poder Público, com prioridades definidas.
“Além da reforma da polícia, da agilidade do Judiciário, do fortalecimento do MP [Ministério Público] e da ampliação do sistema penitenciário, precisamos dar oportunidade aos nossos jovens. Sem tê-las, eles são vítimas fáceis do crime e da droga”, disse Jungmann.
Outro aspecto abordado na audiência pública foi a interiorização da violência no Brasil nos últimos anos. O quadro é decorrente, entre outros fatores, da prioridade do Fundo Nacional de Segurança Pública aos investimentos em capitais e regiões metropolitanas violentas, da descentralização do crescimento econômico com pólos destacados no interior e da melhoria na captação dos dados de mortalidade.
Jacobo e Jungmann salientaram que os municípios interioranos que lideraram o ranking do Mapa da Violência de 2008, último divulgado pelo Instituto Sangari, precisam receber iniciativas específicas para que haja uma reversão de taxas.
A pesquisa segmentou esses municípios por estruturas particulares, como aqueles integrantes do arco do desmatamento, pólos de crescimento nos estados e municípios de fronteira. “Não tem que tirar investimento das grandes capitais, mas dar atenção a esses municípios. Trabalhar sobre os focos e não com políticas globais”, defendeu Jacobo.
“O cobertor é curto. A prioridade permanece nas regiões metropolitanas porque, em termos absolutos, elas ainda nos preocupam mais. Mas fica evidente que precisamos ter uma política de interiorização de programas e projetos na área de segurança pública”, reforçou Jungmann.
Na próxima semana, a CPI da Violência Urbana da Câmara dos Deputados realizará audiência pública com as presenças do secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, e do secretário-geral do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), Ronaldo Teixeira.
Edição: Lílian Beraldo
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