quarta-feira, 31 de março de 2010

Pílula do dia seguinte não provoca aborto

Anticoncepcional: há 50 anos no mundo, conheça os marcos na história dos anticoncepcionais no mundo e no Brasil. 
Ela chegou ao Brasil bem depois do anticoncepcional comum: data de julho de 1999 a aprovação do primeiro medicamento para contracepção de emergência, a popular pílula do dia seguinte. Mas, mesmo antes disso, a ideia de evitar a gestação depois da ocorrência da relação sexual já era praticada quando as mulheres tomavam várias pílulas regulares de uma vez, o que provocava fortes efeitos colaterais, como náuseas e vômitos.
Esse tipo de pílula, composto só de uma substância similar à progesterona e apresentado na forma de um ou dois comprimidos, tem vários mecanismos de ação: o principal deles é impedir o processo de ovulação quando ele ainda não ocorreu. O remédio pode, também, atrasar a chegada do óvulo, tornando seu transporte nas trompas mais lento, entre outras coisas.
Apesar da polêmica que envolve seu uso, o ginecologista Luciano Melo Pompei, membro da diretoria da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), garante que ela não é abortiva. "Não basta haver fecundação para que ocorra a gravidez. No meio científico, só consideramos que há gestação a partir do momento em que existe a nidação [quando o embrião adere ao útero]. Essas pílulas agem antes da nidação e jamais provocam a perda do embrião se ele já tiver aderido."
O médico lembra que elas só devem ser utilizadas em situações de emergência, e não indiscriminadamente. "Além de sua eficácia não ser a mesma da pílula comum, pode levar a irregularidades menstruais."
Quanto antes ela for tomada, melhor é o seu efeito -a recomendação dos médicos é que seja ingerida até 72 horas depois da relação sexual.
Anticoncepcional: há 50 anos no mundo
Vendida com o nome de Enovid, era composta por 150 mg de estrogênio sintético e 9,85 mg de derivado de progesterona - sete a dez vez mais hormônios do que a pílula atual.
"A invenção da pílula revolucionou a sexualidade feminina e abriu caminho para o movimento de libertação da mulher. Permite [às mulheres] planejar o número de filhos e o momento apropriado para tê-los", afirma Ângela Maggio da Fonseca, professora de ginecologia da USP e uma das autoras de "História da Anticoncepção" (ed. Casa Leitura Médica).
Para a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Instituto de Psiquiatria da USP, a pílula permitiu que mudanças que já vinham se desenhando desde o fim da 2ª Guerra Mundial se consolidassem.
Além de dar às mulheres autonomia para controlar a concepção, sua alta eficácia fez com que fosse rapidamente adotada em vários países. Em 1962, já era vendida no Brasil.
Mas havia um ônus: a alta taxa de hormônios da primeira pílula trazia uma cascata de efeitos colaterais. "A aprovação foi baseada em um estudo que foi duramente criticado por erros metodológicos", conta Fonseca. De transtornos de humor a casos de tromboembolismo, seus efeitos eram munição para os opositores -nem sempre por motivos médicos.
As empresas começaram, então, a pesquisar fórmulas mais seguras. Na década de 1970, surgiu a segunda geração de pílulas, com menos hormônios sem perda da eficácia.
Na década de 1990, a terceira geração de pílulas chegou ao mercado. Além de evitarem a gravidez, elas oferecem benefícios extras, como aliviar sintomas de TPM ou acne.
"Hoje, podemos indicar a pílula mais adequada às condições de saúde de cada mulher", afirma Edmund Baracat, professor de ginecologia da USP.
A década passada também viu renascer a polêmica sobre o método, com o advento da pílula do dia seguinte. Desenvolvida para ser tomada após o ato sexual, é acusada de ser abortiva -embora as entidades médicas neguem.
O debate deve continuar quente no século 21, com a introdução, na Europa, de uma pílula que pode ser tomada até cinco dias após o ato sexual.
Quanto às pílulas de uso diário, a novidade é o desenvolvimento de um novo tipo de estrógeno, quase idêntico ao produzido pelo corpo. Nos últimos 50 anos, embora novos derivados de progesterona tenham sido criados, o componente estrogênico não mudou.
"Ainda não há estudos suficientes sobre essa nova pílula [vendida só na Europa], mas usar uma substância quase idêntica aos hormônios naturais pode diminuir problemas como o risco de trombose", diz Carlos Alberto Petta, professor de ginecologia da Unicamp.
A EVOLUÇÃO DA PÍLULAMarcos na história dos anticoncepcionais no mundo e no Brasil
1960
Os EUA aprovam a primeira pílula anticoncepcional, chamada Enovid, composta por estrógeno e progesterona
1962
Enovid começa a ser comercializada no Brasil
1965
Estudos mostram que pílulas de derivados de progesterona, sem estrógenos, podem evitar a gravidez, sem interferir na ovulação e com menor risco vascular
1967É revogada, na França, uma lei de 1920 que proibia o uso de anticoncepcionais no país
1969
A minipílula, composta apenas por derivados de progesterona, começa a ser produzida
1970
O Ministério da Saúde determina que pílulas anticoncepcionais só serão vendidas no Brasil com retenção da receita médica
1974
Aperfeiçoamento das pílulas permite reduzir quantidade de hormônios utilizados
1975
EUA aprovam a pílula do dia seguinte para casos excepcionais, como estupro, e com indicação médica
1977
Estimativas dos fabricantes apontam que 3,5 milhões de brasileiras usam regularmente a pílula
1978
Governo brasileiro inicia programa de saúde materno-infantil, que prevê a distribuição gratuita de pílulas
1999
A primeira pílula do dia seguinte recebe o registro da Anvisa, com o nome comercial de Postinor
2007
Os seis primeiros anticoncepcionais genéricos recebem o registro da Anvisa
2010
Estudo mostra que novo princípio ativo para pílula do dia seguinte é mais eficaz e pode evitar gravidez em até cinco dias após a relação sexual


Fonte: Folha de S. Paulo
Edição: F.C.
11.03.2010

 

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