Odair Albano - Médico e Administrador em Saúde -Ex Secretário de Saúde de Campinas - Março 2010
"As mulheres não estão inteiramente erradas quando rejeitam as regras de vida determinadas para o mundo, uma vez que foram estabelecidas apenas pelos homens, sem seu consentimento" Michel Eyquem Montaigne,1588
Neste oito de Março é celebrado em todo o mundo o Dia Internacional da Mulher. A data é uma homenagem a todas as mulheres, em especial, àquelas que nos vários momentos da história da humanidade lutaram pelos seus direitos. A comemoração, como símbolo de luta e de conquistas, faz parte de um passado histórico de organização das mulheres, que permitiu a elas que lutassem por igualdade e autonomia e participassem ativamente das transformações que ocorreram na sociedade.
Dentre os acontecimentos que marcaram esta revolução, um deles foi fundamental para a liberdade da mulher, o lançamento da pílula anticoncepcional. Descoberta que propiciou mudanças na postura das mulheres, com forte impacto nas relações e comportamento das pessoas, mas que também provocou grandes debates e polêmicas, no âmbito científico, social, religioso, moral e ético.
A primeira pílula foi produzida e lançada nos EUA em 1960, a segunda, de origem alemã, no ano seguinte, na Europa e Austrália. E continua sendo, até hoje, a primeira opção entre os métodos anticoncepcionais, em quase todo mundo. No Brasil, ela surgiu em 1962, sendo utilizada atualmente por 23% das mulheres em idade reprodutiva.
Historicamente, na época do lançamento, havia entre os americanos um clima de euforia, pela retomada do crescimento econômico. Surgia uma geração, de jovens, dispostos a se rebelar contra os valores, de uma sociedade que consideravam moralista e conservadora. Tinham muitos ídolos, surgidos nos anos cinqüenta, entre eles, James Dean no cinema e Little Richard e Elvis Presley no “rock and roll”, que difundiram com as suas atitudes, um novo modelo de comportamento.
Surgida neste contexto, a pílula foi criticada por setores da sociedade, porque permitia mudanças no comportamento sexual, dando controle e maior liberdade às mulheres, alterando o quadro social e o processo natural de reprodução. A sua utilização acabou provocando avanços nos direitos reprodutivos e sexuais, ampliando as possibilidades de um planejamento familiar. Permitindo ainda, maior flexibilização dos valores morais, e sem os impedimentos da gravidez, o ingresso da mulher no mercado de trabalho.
Na aprovação pelo FDA (EUA), em 23 de junho de 1960, a pílula recebeu críticas da comunidade científica, temerosa da exposição das mulheres a riscos, pela falta de avaliação da sua segurança. Mas significou o final de uma longa trajetória com muitos obstáculos, iniciada pelo fisiologista austríaco Ludwig Haberland, que em 1922 já demonstrava a possibilidade de “esterilização hormonal temporária” em animais férteis. Sendo identificado, posteriormente, a progesterona, como responsável pela ação. Sua morte precoce em 1932 retardou em pelo menos 20 anos, o desenvolvimento da pílula.
Em 1939, Russell Marker, químico da Penn State University, começou a pesquisar uma raiz usada pelos índios mexicanos conhecida como “yam” ou “cabeza de negro”, para extração da progesterona. Com o desinteresse americano pela pesquisa, ele montou um pequeno laboratório farmacêutico no México, para produção. Após alguns anos, desiludido, abandonou a atividade.
Dez anos depois, o químico Carl Djerassi, retomou as pesquisas, que permitiram em 1951 a síntese de uma progesterona indicada para distúrbios menstruais, mas que não tinha sido testada como contraceptivo em humanos. Pesquisas que só ocorreram pela intervenção de Margaret Sanger, defensora do controle da natalidade, fundadora em 1916 da primeira clínica de planejamento familiar dos EUA e de Katharine McCormick, filantropa, que obteve recursos financeiros.
Que permitiram em 1953 que Gregory Pincus, bioquímico da Worcester Foundation for Experimental Biology, e John Rock, ginecologista da Harvard Medical School, iniciassem as pesquisas para avaliar a possibilidade de lançamento de um comprimido, que impedisse a gravidez. Que foram realizadas em Porto Rico, devido à descrença de alguns, a resistência de muitos e as restrições legais americanas. Mas que confirmaram os estudos anteriores e o conceito, de que a progesterona teria ação inibidora da ovulação e que combinada aos estrogênios manteria o ciclo menstrual regular.
Poucos medicamentos foram tão investigados e por tanto tempo, como a pílula. Com a descoberta de novos hormônios, foram lançadas pílulas com baixíssimas dosagens, com redução de 10 x nos estrogênios e 164 x nos progestogênios em relação à primeira pílula, que mantêm a eficácia, com menos efeitos adversos e riscos à saúde.
Hoje, utiliza-se na forma combinada ou só com progesterona. Em comprimidos por via oral ou vaginal. E por outras formas e vias de administração: injetáveis, adesivos, anéis vaginais, implantes subcutâneos, dispositivos intra-uterinos com hormônio, além da “pílula emergencial” indicada após relação sexual desprotegida.
Quanto ao futuro da pílula, existe uma tendência mundial, que indica o interesse das mulheres em utilizar produtos com ação prolongada. Que produzam a suspensão ou redução do fluxo, que permitam uma maior comodidade no uso, se possível, abolindo a necessidade de ingestão diária de comprimidos. E que principalmente, promova a redução dos sintomas de diversas doenças, que estão relacionadas à menstruação.
quarta-feira, 31 de março de 2010
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