A grande faceta do 8 de março consiste no reconhecimento e exaltação de todas as lutas e conquistas políticas, econômicas e comunitárias protagonizadas pelas mulheres no cenário internacional. Sua simbologia no calendário ratifica as inúmeras potencialidades desta categoria humana a qual o patriarcado racista, capitalista, confessional e lesbofóbico se empenha a invisibilizar.
Deste modo, “obsclarecem” as opressões destinadas às Rosas encarceradas na Penitenciária Feminina sofrendo o crime de racismo institucional expresso pelo abandono familiar, pela esterilização, hipertensão, diabetes, outrora, também manifestadas por meio de abusos sexuais e seletividade racial neste espaço onde negras e não-negras estão em condição de desigualdade haja vista que, segundo o Estado Penal, esta população não é “flor que se cheire”.
Esta ideologia colonialista e patriarcal é arrogante ao feminismo de mulheres que se parecem socialmente com Dona Joana, que acorda às 3h da manhã para vender na Feira de São Joaquim e, quando seu marido vem colocar banca, ela diz com honra: “comigo homem, você tem que mijar abaixado porque quem manda no meu barraco sou eu”.
A resistência feminina em oposição ao androcentrismo também está flagrada no momento em que a lágrima de Dona Amélia demora a cair ao refletir que neste seu momento de invalidez produtiva e de enfermidade irreversível, o tal marido descobriu que não era ela, a mulher que ele pediu a Deus. Em direção ao sagrado habitam também os pecados praticados pela Igreja e pelo seu guardião, o Estado Brasileiro, ao oportunizar que jovens pobres morram em conseqüência do aborto ilegal e desumanizado decorrente da negação dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres brasileiras.
Não obstante, em outra geração, as lágrimas das mulheres de comunidades vulnerabilizadas se confundem com as chuvas trazidas pela mãe Yansã que, igualmente, chora seus filhos mortos pelos grupos de extermínio, assassinados pela polícia e pelas clínicas clandestinas que compactuam a mesma vontade cruel de interromper a vida das mulheres no aspecto subjetivo e físico como se estas estivessem geograficamente naquela fábrica da Triangle Shirtwaist em Nova York.
Contudo, na trincheira da resignação, as mulheres conquistaram seus votos na cidadania representativa; assumiram prazer e amor pela suas semelhantes; ensejaram políticas públicas focadas em gênero; clamaram a equiparação salarial e passaram ‘ânus’ de revista vexatória ao visitar seus companheiros aprisionados.
Em dias atuais as mulheres mantêm-se firmes e fortes trançadeiras de raiz, chefiando famílias, lavando as impurezas do mundo, no trabalho doméstico, na socialização de saberes e por último, na linha de frente da tecelagem por um modelo de relações sociais igualitárias e poderosamente revolucionárias.
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