sábado, 23 de julho de 2016

Violência contra a mulher é discutida em vídeo e debate

Debate online e vídeo “Violência contra as mulheres: o que os profissionais de saúde têm a ver com isso?” já estão no ar. Veja aqui

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Violência contra as mulheres: o que os profissionais de saúde têm a ver ...

#TodasPorLAMM

Por Stella Florence para as Blogueiras Feministas.
Olá, meninas. Tenho um caso terrível para compartilhar com vocês.
Você ouviu falar do caso de uma adolescente de 16 anos que foi estuprada pelo avô? Pois é, uma monstruosidade repulsiva. Mais repulsiva ainda (e, na minha opinião, um novo estupro) é a sentença do juiz Eduardo Luiz de Abreu Costa que absolveu o criminoso jogando a culpa em LAMM, que ficou paralisada de terror durante a violência. O magistrado alega que o estupro não ficou suficientemente provado, leia um trecho:
“A não anuência à vontade do agente para a configuração de crime de estupro deve ser séria, efetiva, sincera e indicativa de que o sujeito passivo se opôs, inequivocadamente, ao ato sexual, não bastando a simples relutância, as negativas tímidas ou a resistência inerte. (…) Não há prova segura e indene de que o acusado empregou força física suficientemente capaz de impedir a vítima de reagir. A violência material não foi asseverada, nem esclarecida. A violência moral, igualmente, não é clarividente, penso”.
Pensa? Não me parece, Meritíssimo. Ser estuprada pelo avô não é também violência moral? Um delegado (o avô é delegado aposentado hoje) com 40 anos de experiência, subjugar e violar o corpo da neta de 36 quilos é o quê? Dê um nome para isso, Meritíssimo, por gentileza. Como devemos nos opor “inequivocadamente” se nosso avô nos estuprar? Pedir para que ele pare um instante e assine em três vias carbonadas a confissão do crime? Uma vítima não tem direito de ficar paralisada de terror? Uma neta sendo estuprada pelo avô não tem o direito de ficar paralisada de terror? O estado de choque da menina elimina o crime? Se uma pessoa for assaltada e ficar paralisada, em choque, ela então não foi assaltada?
A sentença está sob contestação do Ministério Público. A promotora Valéria Lima, da área criminal da cidade, já informou que entrará com recursos. Valéria sustenta que a decisão do juiz Eduardo Luiz de Abreu Costa contraria as provas e os fatos apresentados no processo.
A advogada de LAMM foi ao lançamento do meu mais novo romance “Eu me possuo” (sobre superação de um estupro) e, alguns dias depois, a própria LAMM pediu um autógrafo no livro (ela estava de passagem por São Paulo). Sugeri que nos encontrássemos para eu dar o autógrafo pessoalmente. Encontrei LAMM (que hoje tem 18 anos), sua mãe e sua advogada. Conversamos por quatro horas. Foi um encontro muito tocante! Ela é tão frágil, tão pequena, dá vontade da gente abraçar e proteger.
LAMM não fala sobre o ato em si, é por demais constrangedor, mas fala muito de como se sentiu depois (eu apenas ouvi, não fiquei perguntando nada para não invadi-la): ela conta seu drama e chora, conta e chora. Esta jovem está emocionalmente em carne viva não só pelo crime que seu avô cometeu contra ela, mas pelo segundo crime também, que é a impunidade e a decisão abjeta do juiz.
O caso foi descoberto porque a mãe flagrou a filha tentando se matar com a arma do padrasto (que é guarda florestal) e então a pressionou para saber o que estava acontecendo. A mãe é uma mulher muito forte (o estuprador da menina, o avô, é pai dela), amorosa, protetora e naturalmente está revoltada e devastada de dor. Eu, como mãe, me coloquei em seu lugar.
LAMM tentou se matar outras vezes e passou muito tempo se cortando (automutilação). Agora ela transformou sua dor em vontade de viver e lutar por justiça, afinal se passaram dois anos e o avô continua livre. LAMM quer que a luta dela sirva pra ajudar outras meninas a não ficarem caladas e saberem que não estão sozinhas.
Como ajudar?
LAMM criou a hashtag #TodasPorLAMM e uma página no Facebook: Todas Por LAMM.
Podemos curtir a página, compartilhar o caso e usar, em nossos comentários nas redes sociais, a hashtag #TodasPorLAMM (vale dizer que os homens também são bem-vindos a essa luta).
Vamos ajudar a LAMM? Nossa ajuda é pequena, mas terá um impacto imenso na vida dela e de outras vítimas de estupro e pedofilia.
Autora
Stella Florence é escritora, tem 1 filha, 9 livros, 30 tatuagens e vive em São Paulo. É autora de “Hoje Acordei Gorda”, “32”, “O Diabo que te Carregue!”, “Os Indecentes”, entre outros títulos. Stella é cronista veterana (Criativa, Bolsa de Mulher, Ouse, iTodas) e hoje escreve semanalmente para a Top Magazine. Seu livro mais recente é “Eu me possuo”.

Direitos sexuais e reprodutivos, saúde das mulheres e a política de violência sexual

Texto de Leticia Alves Maione para as Blogueiras Feministas.
Gostaria de começar a falar sobre direitos sexuais e reprodutivos citando um texto:
“Uma história que começa com uma ampla variedade de civilizações em que o lugar da mulher, o número e a forma dos gêneros, as práticas sexuais aceitas e as condenadas eram tão diversas como as línguas, os sistemas sociais e os cultos. E continua com a violência da conquista que, a sangue, fogo e Bíblia, instaurou a ordem judaico-cristã. Nossa história é também a do genocídio dos escravos e das escravas; a dos idiomas, das identidades de gênero, das formas de desejar e de parir (ou não) que ficaram para sempre nos porões dos navios. É a violência que fundou nossos Estados à ponta de espada, e nossa mestiçagem à ponta de violação. A tutela exercida sobre as raças, os sexos, as idades, os desejos e os corpos “inferiores”, com a lei, com o bastão e com a cruz. Nossa história é violência e tutela, mas também resistência”. Manifesto por uma Convenção Interamericana dos Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos, 2006: 6.